Xavante relatam reunião no MJ; Presidente Lula receberá movimento indígena na terça-feira
Antropologia

Xavante relatam reunião no MJ; Presidente Lula receberá movimento indígena na terça-feira



Relato de uma reunião entre lideranças Xavante e a cúpula da FUNAI

A principal estratégia usada pela cúpula da Funai para quebrar o movimento indígena revolucionário tem sido a de convidar grupos indígenas para reunir-se com ela no Ministério da Justiça para prometer-lhes que, nos seus casos particulares, a cúpula da Funai teria uma saída para seus problemas e demandas particulares. A outra estratégia é cansar o movimento por delongas e pressão para que o presidente Lula não reconheça a legitimidade do movimento indígena revolucionário e não receba representantes do movimento.

Ao que tudo indica, entretanto, o presidente Lula irá receber uma comissão eleita pelo movimento indígena na terça-feira. Parece que um dos líderes Xavante recebeu um telefonema do secretário particular de Lula, Gilberto Carvalho, que reconheceu a validade do movimento e as importantes sugestões que o governo vem recebendo no sentido de pacificar o povo indígena com a decisão correta que todos esperam. Os avisos de amigos de vários quadrantes políticos chegam aos ouvidos do presidente diretamente ou via seus auxiliares mais próximos.

Esse assunto terá consequências importantes para o movimento indígena, que deverá se posicionar brevemente sobre a questão da reintegração de posse e a continuidade da luta. Uma frustração será desastrosa para todos.

Em breve trataremos sobre isso.

Por enquanto, cabe relatar aqui uma reunião ocorrida nesta sexta-feira, dia 15, no MJ, entre um grupo de 11 índios Xavante e a cúpula da Funai. O propósito dessa reunião era o mesmo daquelas realizadas com outros grupos indígenas. Desviá-los da luta pela revogação do decreto e a saída da cúpula da Funai.

Foi assim que ocorreu com os índios que vieram de São Félix do Araguaia, MT, foi assim com o grupo de Kayapó que veio de Redenção, PA, e, aparentemente, foi assim com as lideranças do Alto Xingu. Tentaram com alguns grupos menores de índios nordestinos e com dois ou três grupos Xavante.

Entretanto, muitos participantes desses grupos têm relatado o mal estar em que essas reuniões ocorrem. Muitos saem com vergonha de terem participado de tais reuniões. 

Eis aqui o relato de um grupo Xavante sobre uma reunião que teve nesta sexta-feira passada, dia 15, já à tardinha. Essa história foi relatada pelo cacique Dominguinho à Assembleia Indígena presente no auditório da Funai pouco tempo depois e por outros Xavante posteriormente.

Numa sala de reunião do Ministério da Justiça estavam presentes, pelo lado da cúpula da Funai: o atual presidente, Márcio Meira, a atual diretora de assuntos fundiários, Maria Auxiliadora, a chefe de Gabinete, Maria Salete, e a chefe-substituta da diretoria de assistência indígena, Irânia. Junto a eles, dando-lhes um constrangidíssimo apoio ao caso, com pouca convicção e certo temor, os Xavante Edmundo, Félix, atual administrador de Barra do Garças, Hiparendi, de Sangradouro, e Isaac, do Kuluene.

Os principais caciques presentes eram José Luiz, Pio, Pedro, filho de Benjamim, Dominguinho e Arnaldo. Havia ainda os jovens Crizanto e Agnelo, ambos de Barra do Garças, e com experiência política em associações indígenas, inclusive na Coiab e no CNPI. Para a cúpula da Funai esses dois últimos seriam confiáveis, mas na reunião eles demonstraram estar a favor do movimento indígena revolucionário.

A reunião, como costuma ser entre os Xavante, é iniciada pelas falas dos caciques, numa ordem hierárquica discutida por eles, cada qual se levantando da cadeira e falando de pé. O teor e os assuntos de todos as falas foram extremamente duros, francos, sinceros e sem subterfúgios, unânimes, no sentido de demonstrarem a completa desconfiança na pessoa do atual presidente, na análise sobre as consequências nefastas desse decreto para com as administrações xavante e as dos demais povos indígenas, contrário ao caráter sigiloso e ardiloso usado na elaboração do decreto e em sua publicação, e absolutamente contrário ao modo como a situação vem sendo tratada pela cúpula da Funai.

Todas as vezes que a voz de um dos Xavante que estava ao lado da cúpula e a favor do decreto era levantada para explicar, os demais Xavante a rebatiam com argumentos claros e inequívocos. Todos replicavam que não toleram mais ouvir o discurso de que esse decreto vai favorecer a Funai, quando está evidente que não vai. O cacique Pedro, depois de seu discurso, concluiu dizendo que não estendia a mão ao presidente porque não confiava nele. Todos os caciques Xavante exigiriam que não necessitavam mais falar com o presidente da Funai, e sim com o presidente da República, porque só este tem poder para revogar o decreto.

Segundo os Xavante presentes, a principal defesa que o atual presidente faz de sua posição é de que tem a total confiança do presidente Lula, que gosta muito dele, e que lhe dá cobertura para suas ações políticas, inclusive a elaboração desse decreto. Os Xavante lembraram que também durante a gestão curtíssima do primeiro presidente da Funai nomeado pelo presidente Lula, o indigenista Eduardo Almeida, ele também se valia da mesma ladainha de dizer ter o apoio de Lula. Parece que é o modo que alguns usam para prevalecer sobre quem eles acreditam sejam crédulos e ingênuos. Mas os Xavante, como os demais índios que participam do movimento indígena revolucionário, já conhecem essa ladainha e não se intimidam com isso.

A reunião terminou seca e ríspida. Ao final da fala de Arnaldo Tserererõ, ele se retirou da sala de reunião e esperou a saída dos demais. Foi abordado pelo presidente da Funai que perguntou se ele tinha algum assunto particular que desejasse tratar pessoalmente com ele, ao que Arnaldo retrucou que não tinha nenhum assunto particular a ser compartilhado com ele.

A segurança dos Xavante continua firme. Não vão desistir enquanto o decreto não for revogado e a cúpula exonerada da Funai.




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