Viagem pela Amazônia
Antropologia

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De volta ao Rio de Janeiro depois de uma rápida e proveitosa semana viajando pelos rios Araguaia e Xingu e visitando aldeias dos índios Karajá, Xavante e Kayapó.

Karajá

Terça-feira estive nas aldeias Santa Isabel do Morro e JK, dos índios Karajá, na Ilha do Bananal, quase confronte à cidade de São Félix do Araguaia, onde vive o bispo Dom Pedro Casaldáliga. A Ilha do Bananal é formada pela divisão do rio Araguaia, que a envolve pelo lado esquerdo, onde continua a ser chamado de rio Araguaia, e por seu braço oriental, que recebe o nome de rio Javaé. De um lado estão os índios Karajá, do outro os Javaé. Ambos se denominam Iny Mahadu, falam a mesma língua, porém com sotaques diferentes. A FUNAI os reconhece como dois povos separados.

Conversei com lideranças dessas duas aldeias e eles me relataram o que estava se passando pela Ilha e em que pé estava seu relacionamento com o mundo dos brancos, inclusive com a FUNAI. O que me alegrou foi confirmar a notícia que havia dado há alguns meses neste Blog de que o gado dos brancos -- milhares de cabeças -- que estava na Ilha desde a década de 1970 havia sido compulsoriamente retirado em sua totalidade por determinação dos índios Karajá. Esse gesto tinha sido comemorado como uma grande vitória do povo Karajá, como o início de uma nova era de mais autonomia e capacidade de auto-determinação. Entretanto, passados apenas uns dois meses, para a infelicidade dos Karajá, parece que, do lado dos Javaé, alguns fazendeiros já tinham recolocado seu gado de volta, sob a benemerência de algumas lideranças indígenas javaé. Aliás, falava-se que um procurador do estado de Tocantins tinha permitido, se não promovido, esse ato argumentando que os índios precisavam de ter renda e que o aluguel do pasto nativo da Ilha não contrariava o Estatuto do Índio. Essa questão vai abrir nova frente de desentendimento entre os Karajá e Javaé, e, o pior, com a intervenção negativa do Ministério Público.

Xavante

No dia seguinte, quarta-feira, peguei um carro para ir visitar os Xavante na Terra Indígena Maraiwatsede, distante 170 km de São Felix do Araguaia. Choveu durante toda a viagem num lamaçal sem fim.

Ao chegar na Terra Indígena Maraiwatsede, lembrei-me do tempo em que lá estivera pela primeira vez com os Xavante liderados por Damião na retomada de suas terras. Eles acamparam na beira da estrada, confronte à entrada da terra indígena, e lá ficaram mais de um ano e meio, sofrendo as ameaças dos posseiros, fazendeiros e políticos locais e nacionais, até conseguirem penetrar com suas mulheres e filhos em uma parte dela, onde assentarem de vez seu povo. Hoje aquela aldeia é a maior de todas as aldeias xavante, com mais de 800 pessoas. Damião é seu grande líder.

A recepção que os Xavante me concederam não poderia ter sido mais calorosa. Saudaram-me com um dos seus cãnticos coletivos de saudação, conversaram comigo, perguntaram por assuntos sobre os quais estavam interessados em ouvir a minha opinião.

Kayapó

No dia seguinte, quinta-feira, tomamos um avião rumo a Tucumã, no centro do estado do Pará. Tucumã, ao lado de outra cidade chamada Ourilândia do Norte, abrigam as dependências da VALE, com uma mina de níquel, cobre e ouro que se localiza ao lado da Terra Indígena Xikrin. Em Tucumã está instalado, desde 2006, um Núcleo de Apoio da FUNAI que atende a sete aldeias do povo Mebengokrê, os Kayapó. Esse núcleo foi criado pela fusão de dois postos indígenas, na minha administração. Os Kayapó têm um apoio seguro na região.

Visitamos a aldeia Kriketum, atualmente a maior aldeia kayapó, com 900 pessoas. Localiza-se na beira do rio Fresco, um dos principais afluentes do médio rio Xingu. Fomos recepcionados por cânticos de boas-vindas por cerca de 150 Kayapó, liderados pelo cacique Niti, na foto acima. Vieram líderes e representantes de duas outras aldeias para confranternizarem com a nossa presença. Foi um prazer imenso falar com os Kayapó, ouvir seus cãnticos de alegria e de guerra, e ponderar com eles os acontecimentos da questão indígena brasileira.

Os Kayapó, bem como os Xavante e os Karajá, estão extremamente preocupados com as ameaças de mudança no Estatuto do Índio, que a Comissão Nacional de Política Indígena está tentando promover junto com os argumentos do CIMI e das Ongs neoliberais. A atual gestão da FUNAI também é favorável a essa mudança, em confrontação com as apreensões dos índios. Eles relataram que, em uma reunião promovida pela atual gestão da FUNAI em Belém, com a presença de diversas representações indígenas, protestaram veementemente contra a ideia de acabar com o Estatuto do Índio por uma nova proposta, que seria levada ao Congresso Nacional para o alvitre dos deputados. Consideram que o Estatuto do Índio atual é bom o suficiente e que não vale a pena tentar mudá-lo. Seria muito arriscado, pelas mudanças que os deputados viessem a efetuar. As propostas trazidas por aquelas Ongs, que infelizmente ainda contam com o apoio de algumas lideranças indígenas, especialmente as ligadas à atual gestão da Coiab, foram rechaçadas pelos Kayapó -- unanimemente. Com isso, parece que, naquela reunião, essas propostas teriam sido abandonadas, embora elas continuem a ser discutidas nos fóruns dominados pelas Ongs.

De todo modo, os Kayapó querem unir os demais povos indígenas para rechaçar as ideias que são ventiladas pelas Ongs neoliberais. Querem que a FUNAI defenda o Estatuto do Índio atual, querem uma FUNAI forte e que defenda os seus direitos, não querem a presença de pessoas que mal conhecem a situação indígena brasileira. Foi o que os Kayapó me relataram.



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Esta é uma notícia que precisa de esclarecimento. Diz que um índio Karajá foi espancado numa cidade do interior de São Paulo e veio morrer num hospital em Goiânia. Alô, alô, Edson Beiriz, que aconteceu? ___________________________________________...



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