Antropologia
Não há como justificar o injustificável
Tentando justificar o injustificável, tentando barrar a onda de protestos que se levantou no país e que em breve chegará a Brasília, a atual gestão da Funai tem atirado todo tipo de sofisma para a imprensa. Ela, sem espírito crítico, deixa passar.
Um desses sofismas é que só foram extintas oito ou nove administrações, quando na verdade foram 21, as quais serão rebaixadas a nível de coordenação técnica local, com 1 coordenador, e passarão a depender para todas suas ações, inclusive e especialmente financeira, a sete novas coordenadorias. Portanto, elas por elas, houve uma redução de 14 administrações. Isto se considerarmos que um tanto de outras coordenadorias com nomes diferentes substituirão as existentes. Tais como: a chamada Coordenadoria do Madeira seria a antiga AER Porto Velho; ou a nova Coordenadoria Purus seria a antiga Lábrea.
A ver:
Administrações extintas:
Recife -- sem substituto -- vai depender de Fortaleza ou Maceió ou Paulo Afonso??
João Pessoa -- sem substituto -- vai depender da recém-criada Fortaleza
São Luís -- sem substituto -- vai depender de Imperatriz
Altamira -- sem substituto -- vai depender de Belém
Itaituba -- sem substituto -- vai depender de uma nova a ser criada em Santarém??
Redenção -- sem substituto -- vai depender de Tucumã (elevada de Núcleo para Coordenadoria)
Ilhéus -- sem substituto -- vai depender de uma nova a ser criada em Eunápolis para servir também ao NAL Porto Seguro
Oiapoque -- sem substituto -- a depender de Macapá
Parintins -- sem substituto -- a depender de Manaus
Araguaína -- sem substituto -- vai depender da nova Palmas
Gurupi -- sem substituto -- junto com Araguaína vai depender da nova Palmas)
Araguaia -- sem substituto -- a depender da recém-criada Ribeirão Cascalheira??
Goiânia -- sem substituto -- a depender de Barra do Garças??
Primavera do Leste -- sem substituto -- a depender de Barra do Garças ou Ribeirão Cascalheira??
Campinápolis -- sem substituto -- a depender de Barra do Garças ou Ribeirão Cascalheira??
Água Boa -- sem substituto -- a depender de Ribeirão Cascalheira ou Barra do Garças??
Tangará da Serra -- sem substituto -- a depender de Cuiabá
Curitiba -- a depender de uma nova chamada Litoral Sul (programada para ir para Florianópolis, agora em negociação)
Guarapuava -- sem substituto -- a depender da nova Litoral Sul
Londrina -- sem substituto -- a depender da nova Litoral Sul
Amambai -- passará a se localizar em Ponta Porã??
Quanto à extinção de Núcleos de Apoio, os números não são tão claros, pois alguns tinham sido extintos recentemente, ou mudados para Administrações. A ver:
Porto Seguro
Bauru -- antiga AER
Palhoça
Kadiwéu
Rondonópolis
Norotã
Nova Xavantina
General Carneiro
Vilhena
Canela
Mardônio Pompeu??
Barra do Corda??
Como se vê, não é pouca coisa que foi extinta.
Por outro lado, outro sofisma mais cabeludo é a justificativa sobre o fim dos postos indígenas. Os postos indígenas da Funai, com velha tradição de presença nas áreas indígenas, agora passam a ser chamados pelo anódino nome (que nem fede nem cheira, muito pelo contrário, como quer o pensamento burocrático e anti-indígena prevalente na atual gestão da Funai) de "comissão técnica".
Ora, essa gente concebe o indigenismo que quer impor sobre o indigenismo rondoniano, que estará fazendo 100 anos este ano de 2010, como se fosse uma filigrana burocrática. Algo que uns poucos burocratas decidem sobre uma planilha. Quem já foi chefe de posto sabe que a função não é de burocrata e onde a técnica é o mínimo necessário. O que prevalece é a garra, a paixão, a experiência construída no diálogo e a dedicação à causa indígena que vai muita além do que a palavra "comissão técnica" implica.
Além do mais, essas tais comissões vão depender exclusivamente das tais coordenadorias regionais, sem autonomia, indicações puramente políticas, e poderão ser removidas a gosto do coordenador. É o fim mesmo do indigenismo rondoniano e da filosofia que prevalecia no indigenismo praticado pelo melhor que a Funai tinha.
É a alienação absoluta da participação indígena. Nem se fala nessa reestruturação em participação indígena. Até o nome indígena foi retirado da nova reestruturação. Simbologia perfeita para uma gestão sem alma e sem coração. A terceirização campeia no espírito atual do indigenismo anti-rondoniano. É o neoliberalismo indigenista em ação.
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