Antropologia
Lembrando amigos indigenistas: Darcy Ribeiro, Carlos Moreira, Xará, Apoena Meirelles e Florindo Diniz
Darcy Ribeiro, o antropólogo genial em ação
Quero começar o Ano Novo lembrando alguns dos meus grandes amigos que foram indigenistas, pessoas que trabalharam com povos indígenas no Brasil e em outros países, que sentiram o prazer desse ofício e a dureza e determinação que dele são exigidas.
Começo com Darcy Ribeiro, de quem fui amigo e companheiro de trabalho em várias ocasiões. Fui seu secretário de Planejamento na Secretaria de Projetos Especiais no segundo governo Brizola, no Rio de Janeiro.
Ajudei-o na reconstrução dos CIEPs, as escolas de turno integral criadas no primeiro governo Brizola e depois destruídas no governo Moreira Franco, de quem era secretário de educação o atual ministro do STF Carlos Alberto Direito.
Ajudei-o na conceituação e programa da Universidade Estadual do Norte Fluminense, a Uenf, localizada em diversas cidades do norte fluminense, como Campos, Macaé e Itaocara.
Organizei com ele o Terceiro Encontro de Barbados, no Rio de Janeiro, com os mesmos antropólogos e outros para discutir a questão indígena na América Latina.
Escrevemos um artigo juntos, ?Etnia e Civilização?, publicado em italiano, espanhol e inglês, mas não em português, engraçado, não é?
Ajudei-o no trabalho intelectual de diversos de seus livros, desde ?Testemunho?, passando por ?Diários Índios? até ?O Povo Brasileiro?.
Darcy começou a trabalhar com povos indígenas em 1948, ao fazer sua primeira visita aos Kadiwéu, do Pantanal, e visitar os Guarani e Terena do Mato Grosso do Sul. Criou um grande sentimento de afeto e respeito pelos Kadiwéu, e deixou amigos que foi reencontrar em 1991, quando era senador da República.
Nessa viagem conheceu Marçal de Souza, o grande líder Guarani, assassinado na Aldeia Campestre, e manteve com ele uma correspondência por muitos anos. Sobre os Kadiweu publicou diversos artigos clássicos e um livro com os desenhos e figuras que os Kadiwéu fazem em couros de boi. Darcy considerava que este livro ficaria na literatura etnológico para sempre, como testemunho de uma arte extraordinária.
Em 1949 e 1951 Darcy esteve com os Urubu-Kaapor, na região do rio Gurupi, fronteira entre Maranhão e Pará. Dos Kaapor escreveu alguns artigos, fez um lindo filme sobre o dia-a-dia dos Kaapor, presenciou um surto de sarampo e gripe que dizimou mais de uma centena de índios em três meses e, já no final de sua vida, publicou seu diário de campo, que merece ser lido como testemunho de uma época.
Em 1953, Darcy criou o Museu do Índio, que ainda hoje permanece na Funai, apesar da vontade que alguns têm de retirá-lo de lá e passá-lo para o MINC, e da péssima administração por que vem passando nos últimos 12 anos, desvirtuada do sentido que Darcy quis dar ao Museu. Mas, um dia voltará a ser retomado.
Nesse mesmo ano, Darcy, levado pelo velho marechal Rondon, e junto com o grande antropólogo carioca Eduardo Galvão, autor de artigos seminais sobre os índios xinguanos e do Alto Rio Negro, e Orlando Villas-Boas, tiveram várias entrevistas com o presidente Getúlio Vargas para criar o Parque Nacional do Xingu. Getúlio Vargas, dizia Orlando Villas-Boas, chamava Darcy de ?o encouraçado Potemkim de bolso?, por sua baixa estatura junto com seu espírito guerreiro.
Bem, a obra de Darcy Ribeiro é muito extensa para descrevê-la aqui. Além de antropólogo, criador, educador, escritor e político, foi amigo divertido e leal aos índios. Nunca parou de reconhecer que toda sua fama se deve ao seu trabalho inicial com os povos indígenas.
Escrevi um livro sobre ele, chamado ?Darcy Ribeiro?, Pensamento e Obra, da Editora Ícone, e os convido a consultá-lo para maiores detalhes. Darcy Ribeiro morreu em fevereiro de 1997, dois meses depois da promulgação da Lei Darcy Ribeiro de Educação.
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