Antropologia
Humor na vida de uma mestranda
Para o mestrado só de mulheres expresso neste espaço uma comparação arraigada de estereótipos, mas repleto de humor. A comparação é: fazer uma dissertação é igual a ter filhos. Essa tentativa em escrever esta prova seria uma forma de equiparar mulheres casadas ou divorciadas que tem filhos com mulheres solteiras. Espero que esta tentativa não provoque nenhum sentimento de fúria em qualquer uma das partes.
Eu engravidei ao passar no mestrado. A barriga cresceu durante nove meses, de março a dezembro, ao fazer as disciplinas obrigatórias. Foi um período de muitos enjôos ao ler textos enfadonhos, mas também muito divertidos quando conseguia entender a idéia e as categorias expostas pelos autores. O pré-natal era semanal, sempre tinha duas ou até três consultas por semana, no primeiro semestre foi no Museu Antropológico e no segundo semestre no Campus II. A cada vez que a barriga crescia mais noites de sono eu perdia e mais rápido eu tinha que fazer minhas refeições, foram tempos duríssimos. Os resultados do ultra-som eram as menções que muitas vezes eram recebidas com felicidades e outras com angústia, com uma posterior conversa com o médico, no caso professores responsáveis pelas disciplinas.
Assim, fazer uma dissertação é como ter um filho. A gente fica acordada nas madrugadas dando atenção, cuidando para que ela fique impecável. Tira o nosso sono, portanto. Temos diversas despesas financeiras seja com livros, congressos, telefone, internet, xérox, cartucho de tinta, papel A4, inscrições em eventos, transporte, almoço no RU ou no executivo, gasolina, crédito de celular, exames médicos (porque sempre estamos adoecendo), etc, etc. Além desses gastos temos sempre que levar a dissertação a algum especialista, no caso a(o) orientadora para saber como está o desenvolvimento (saúde) das idéias. Mas se o especialista notar algum desvio da dissertação (filha/filho), nossa mais um pesadelo em vista. Com previsões de acabar na UTI.
Quando a dissertação nasce o mais adequado seria alimenta-la diariamente, mas, às vezes, temos que fazer outras leituras ou trabalhos de campo e aí ela fica tempos sem ver comida. Contudo, quando a fome aperta, ela chora desesperadamente e ficamos bastante doloridas com tamanha capacidade que ela tem de nos sugar.
Essa capacidade de nos sugar é visível quando percebemos que ela nos priva de grandes prazeres como: festas, convívio social, churrascos aos finais de semana, comemorações da Copa e cervejadas com amigos. Ela nos faz perder os cabelos quando a olhamos e perguntamos: - Diga qual é o seu problema? Ou Porque não estamos nos entrosando? E ela fica com aquela cara de paisagem só dizendo: - Decifra-me ou te devoro.
Quando ela entra no estágio de birra e pirraças, nós (os pais ou mães) começamos a ter dores de cabeça, de barriga entre outras moléstias. Nestes momentos é preciso leva-la para passear na casa da (o) orientadora, no campus, casa de amigas (os), casa do corretor de português, entre outros espaços que conseguimos finalmente que cessem os gritos.
Quando chega à adolescência – metade do caminho – temos que ensina-las várias regras de comportamento e adequação em grupo. É o momento que ela sai da nossa casinha e começa a enfrentar outros espaços, como os congressos, as reuniões de grupos de pesquisa, os seminários, etc, as regras são ditadas pela grande mestra ABNT, esta é a verdadeira super-nanny.
E então, chega a hora do vestibular, em que se coloca a prova todo o aprendizado anterior. Um momento de grandes temores é o que resume a qualificação. Um período de angústias em que mais noites se vão sem dormir e tantas caixinhas de chás de camomila. Causando até mesmo intoxicação com esta dieta alimentar a base de maracujá, camomila e guaraná.
E mais dinheiro vai embora com diversas terapias e tempos no telefone e na internet desabafando com namoradas, namorados, maridos, esposas, amigas e amigos. Por que acreditamos que nossa filha ou filho cresceu muito rápido e não sabemos se está preparado para o mundo.
Mas, eu acredito que quando ela/ele chegar à fase adulta. No momento em que ela/ele terá outra casa – a biblioteca, a PRPPG, a secretaria do programa – com certeza vai deixar saudades e levar um pedaço nosso – suas mães ou pais – restando um pouco de vazio em nossas mestrandas vidas.
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