UM DIA NA VIDA DE UMA MESTRANDA DE ANTROPOLOGIA SOCIAL
Antropologia

UM DIA NA VIDA DE UMA MESTRANDA DE ANTROPOLOGIA SOCIAL


UM DIA NA VIDA DE UMA MESTRANDA DE ANTROPOLOGIA SOCIAL
Tetê

O despertador toca às seis horas da manhã. Levanto-me de imediato, pensando nas muitas leituras que terei que fazer. Chamo minha filhinha de oito anos, rapidamente, para que ela se levante para ir à escola e, enquanto ela o faz, corro até a cozinha, coloco água no fogo para fazer o café, volto correndo para fazer minha higiene, enquanto ela se apronta e a água borbulha na panela. Ufa! Volto à cozinha sob os gritos da Helena: “Mãaaee, ajude-me escolher a tiara que vou usar! Mãe, o que vou levar para lanchar? Mãe, você colocou o material de inglês na mochila? Mãe, e a agenda, você assinou? E o dinheiro que terei que levar, onde está? Mãeee, hoje tem ballet, você colocou na outra mochila o uniforme? Que horas são? Mãaaee, vou esquentar mais o leite, não ficou legal”.

Enquanto a Helena toma o café da manhã, olho meu quadro de atividades na porta da geladeira: ler, pelo menos, 60 páginas do livro da semana de teoria antropológica (nunca tem menos de 300 páginas), ler três textos de Gênero (todos em espanhol, claro!), ler os textos da Cíntia (paro para verificar quantos textos são, quantas páginas, para que dia, e calculo quanto tempo levarei para dar conta da tarefa). Hum! Respiro aliviada, pois esta aula será na sexta, preciso dar conta primeiro da aula de terça, depois da aula de quinta (nossa! tenho que fazer o relatório de teoria da aula anterior!), verifico as datas dos próximos trabalhos (fazer observação em, no mínimo, três dias, e ler uma biografia de 350 páginas para escrever um ensaio), tudo para antes das férias, é claro! Afinal, nas “férias” faremos três trabalhos finais das disciplinas.

Após encaminhar a Helena para a escola, respiro fundo e vou à luta. Alterno a leitura entre anotações, pesquisa na Internet (sempre surge algo para pesquisar), com olhadelas no relógio. È uma corrida insana contra o tempo. As únicas paradinhas que faço são para ir ao banheiro e beber água, além de, é claro, olhar no relógio. Paro um pouco refletindo sobre tudo que li: “teria eu lido sobre este assunto ontem, hoje ou amanhã? Pensei em ler e não o fiz ou já o fiz? Li isto no texto de teoria, gênero ou abordagem? Será que estou ficando maluca?” O telefone toca. Chocada, ouço alguém perguntar do outro lado da linha “quem fala”? Por um momento esqueço meu nome e o número do meu telefone. Falo a verdade, não minto! Resolvo tirar o telefone da tomada, para poder dedicar-me “maaaiss” às leituras, sem interrupção. Penso que hoje poderei estudar mais, pois não terei que assistir aula no período da tarde. Nesse momento, ouço a campainha. Vou até à porta pé ante pé, devagarinho, sem fazer barulho, para que minha “visita” não suspeite que estou em casa. Olho pelo visor, e resolvo continuar meus estudos.Volto para o escritório. Logo depois, o interfone toca, toca, até eu quase não suportar mais, porém, aguento firme “fingindo-me de morta” para poder estudar em paz. Não atendo. Logo deduzo que um dos porteiros que “ama” conversar e ser “solícito” dedurou-me, com certeza. Ele deve ter dito à pessoa interessada em falar comigo que “o carro dela está na garagem, aqui na guarita da frente ela não passou, hoje ela não saiu, está com toda certeza em casa, vamos insistir tocando o interfone, ah, talvez ela esteja no banho, você quer que eu suba com você para tocarmos juntos a campainha?” Ele costuma fazer isso, já o fez comigo. Talvez suspeite que me torno uma ermitã quando estou estudando, que ignoro tudo e todos e, para se vingar, apronta de vez em quando. Não me entendam de forma errônea, não era cobrador batendo à minha porta, apenas vendedores de cosméticos que têm muitas clientes no prédio e aproveitam para dar uma passadinha e ver se não quero nada desta vez.

Estudo, aproximadamente, dez horas ininterruptas nesse dia. Ao parar de estudar, vou preparar o lanche da minha filha, ajudá-la com os deveres escolares e me preparar para a jornada do dia seguinte. Verifico as leituras que terei que fazer durante a semana, e meu coração bate descompassado, torcendo para que tenha menos de 400 páginas (afinal, nem é tanto assim, não é??!!), entre textos e clássicos para ler. Exausta, e confusa com a profusão de conteúdos que li, deito-me em paz com a consciência de ter tentado “dar conta do recado”. Se consegui fazê-lo, somente o tempo dirá.




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