Antropologia
Fim do protesto em Cabrobó
A notícia, vinda do jornal bahiano A Tarde, fala por si mesma. Os que protestavam contra a transposição do rio São Francisco e tinham invadido um canteiro de obras se retiraram ontem. Agora vamos ver como aquele tema, alegado pelos advogados do CIMI, de que aquele canteiro era terra dos Truká, vai durar. Até a Brasília vieram para pedir pronta demarcação.
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Fim do protesto contra obras de transposição
ENVIADO ESPECIAL
darocha@atarde.com.br
Os índios da tribo Truká e os integrantes do Movimento dos Sem-Terra (MST) deixaram a área do canteiro de obras do canal do Eixo Norte da transposição do Rio São Francisco, no município de Cabrobó, Estado de Pernambuco, no final da manhã de ontem.
Os manifestantes deixaram o local escoltados pelas polícias Militar e Federal e foram acampar em um assentamento do MST, a oito quilômetros do local de onde estavam e a dois quilômetros do acampamento do Exército, encarregado de realizar a primeira etapa das obras de transposição.
Após nove dias de ocupação da área, quando cerca de 1,5 mil índios de várias tribos e integrantes dos movimentos sociais de vários Estados chegaram na madrugada da terça-feira da semana passada, os manifestantes foram obrigados a abandonar o local sob forte pressão das polícias Federal e Militar de Pernambuco, que trouxeram 120 homens fortemente armados com fuzis, metralhadoras, bombas de efeito moral e de pimenta, além de grupos especializados em ações de combate na caatinga.
Não houve resistência por parte dos índios e sem-terra, que, durante toda a madrugada, permaneceram em vigília, pintados com cores de guerra da tradição indígena e armados com lanças de madeira.
Numericamente superiores na proporção de três para um, mas inferiorizados em táticas e armamentos, os ocupantes do canteiro da transposição receberam a notificação do oficial da Justiça Federal às 8 horas, mas só deixaram o acampamento ao meio-dia, caminhando por oito quilômetros até um assentamento do MST, na beira da BR-428, que liga Cabrobó a Petro lina.
A ordem para o cumprimento da ação de reintegração de posse havia sido concedida em favor do Ministério da Integração Nacional na última sexta-feira, pelo juiz da 20ª Vara da Justiça Federal de Salgueiro, Giorgius Argentini Felipi, e foi entregue ontem pelo oficial de justiça Antônio José Silva Carvalho e pelos delegados federais Bernardo Gonçalves de Torres e Cristiano Oliveira Rocha, que estavam acompanhados do chefe do posto da Funai (Fundação Nacional de Apoio ao Índio) em Cabrobó, Marco Florentino, e da engenheira Elianeiva Odízio, que estava representando o Ministério da Integração Integração Nacional.
O comandante do 72º Batalhão de Infantaria Motorizada do Exército, tenente-coronel Aníbal Passos, também acompanhou a ação de reintegração, mas o Exército, contudo, não participou das ações de despejo dos índios e sem-teto da área do canteiro de obras. O aparato militar, trazido de Recife (PE) e de Salgueiro, incluiu três colunas de ataque. Na primeira linha, vieram os homens da Polícia Federal, armados com lança-granadas, fuzis e bombas de efeito moral. Na segunda e terceira colunas estavam os homens do Batalhão de Choque da PolíciaMilitar, igualmente armados. Mais atrás, formando uma linha de reserva, estavam mais homens da Polícia Federal e um pelotão de militares especializados em ações de combate na caatinga.
Fechando o cerco, estavam os homens do Gati (Grupo de Ação Tática Itinerante), também especializado em ações de combate na caatinga. Os militares ganharam ainda o apoio de um helicóptero da Polícia Rodoviária Federal, que permaneceu sobrevoando todo o local de operações, e de um grupamento do Corpo de Bombeiros . O Exército, que não participou diretamente das ações, deslocou para o local dois caminhões para a retirada dos móveis e um ônibus para levar o pessoal embora.
O forte aparato militar acabou assustando os índios, que preferiram evitar quaisquer conflitos. O cacique da tribo Truká e principal líder da ocupação, Aurivan dos Santos Barros, o Neguinho, foi quem recebeu a intimação e o prazo de meia hora para deixar o local.
"Não vamos reagir, até porque a nossa arma é a paz e não vamos expor mulheres e crianças aos riscos da violência policial", disse.
BISPO REAGE-
O bispo da Diocese de Barra, D. Luiz Flávio Cappio, que chegou a pregar, na semana passada, o confronto para se contrapor à obra da transposição, não se encontrava em Cabrobó na hora da retirada dos manifestantes pela polícia, mas disse que a saída do acampamento não pode ser entendida como uma derrota. "Pelo contrário, quem saiu derrotado foi o governo, pois agora ficou mais do que claro de que lado o presidente Lula está", disse.
Segundo D. Luiz Cappio, a diminuição do número de ocupantes do acampamento de aproximadamente 1,5 mil no primeiro dia da ocupação para pouco mais de 300, ontem de manhã, deveu-se à proibição de entrada de caravanas vindas de outros Estados. "A mobilização estava sendo feita em diversos núcleos, mas as restrições impostas foram grandes", disse o bispo.
O bispo disse que a luta contra a transposição não termina em Cabrobó e que vai continuar em outras áreas. Ele mesmo anunciou que retornará ao município e vai se encontrar com os índios trukás e integrantes do MST que vivem nos assentamentos da região. "Infelizmente, não pude estar no momento da retirada do acampamento, mas em breve estaremos de volta a Cabrobó para continuar a luta contra essa vergonha", disse.
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