Antropologia
300 índios caminham da Funai ao Ministério da Justiça e querem justiça
Hoje, dia 12 de janeiro de 2010, foi um dia extraordinário no movimento indígena de raiz brasileiro.
De manhã, cedinho, os 150 índios Potiguara, Pankararu, Atikum, Pankará, Fulniô e Xavante que haviam dormido sob as marquises da Funai, se uniram aos Kayapó e outros grupos Xavante, aos Tapirapé, Karajá, Maxakali, Krahô, e fecharam a sede central da Fundação Nacional do Índio, em Brasília.
Cantando, dançando e discursando, eles mantiveram a Funai fechada por todo o dia. Os jornais, as televisões, a imprensa em geral, acudiram ao chamamento da sua luta e logo buscaram saber do que se tratava.
O fechamento, a tomada da Funai, teve repercussão por todo o Brasil. Todos os jornais eletrônicos, os jornais televisivos mostraram cenas, entrevistaram líderes indígenas e fizeram ver e saber ao resto do Brasil o que estava se passando -- ao menos superficialmente -- na questão indígena brasileira.
À tarde, a partir das 14:00, os índios tomaram o auditório da Funai para discutir o que fazer. Lá o Potiguara Caboclinho tomou a palavra para relatar que havia recebido um telefonema do atual presidente da Funai no sentido de convidá-lo para vir conversar com ele, com uma comissão pequena. "Arreglar las cosas". Caboclinho rejeitou a oferta imediatamente, mostrando ao seu interlocutor o quanto os índios não confiavam nele, pela traição que havia feito aos índios que de boa fé haviam participado do CNPI, e a todos os demais índios brasileiros que foram traídos pela infidelidade de seu ato de levar ao presidente Lula um projeto de decreto que, se vier a ser realizado, será a ruína dos povos indígenas brasileiros.
Os demais índios no auditório aplaudiram a atitude do líder Potiguara. Decidiram fazer uma longa caminhada até o Ministério da Justiça para buscar conversar com o ministro da Justiça, que também é responsável pelo decreto.
A caminhada foi longa, da Funai, onde está o Setor de Rádio e Televisão, Esplanada dos Ministérios abaixo até o ministério da Justiça. Foram cantando e expondo as faixas de protestos. Algumas delas são muito duras. Umas deles diz:
LULA -- O ANTI-RONDON MODERNINHO
Outras pediam a revogação do decreto de reestruturação e a saída da direção inteira da Funai.
Ao chegar lá, não foram recebidos pelo ministro e se recusaram falar com a enviada que veio comunicar a ausência do ministro e do secretário-executivo.
O governo faz mal em prolongar a falta de diálogo direto. Os índios não confiam na direção atual da Funai. Falam com o ministro ou com o presidente da República.
A demora em revogar o decreto e exonerar os responsáveis só vai piorar a situação. Os índios não vão arredar pé.
Mais 200 a 300 índios estarão chegando amanhã. De várias partes do Brasil. Até do Mato Grosso do Sul, de onde se pode dizer que nenhuma administração foi extinta.
Mas os Terena, Kadiwéu, Guarani Kaiowá e Ñandeva, os Kinikinao e Oti-Xavante sabem que o decreto os atinge a todos.
Demonstrações de protesto começam a pipocar pelo Brasil. Hoje os Kaingang e Guarani tomaram a Funai em Curitiba e fecharam dois trechos da BR-373. Prometem que voltarão a fazer de novo em trechos diferentes, de surpresa.
Ninguém é privilegiado com esse decreto. Todos são prejudicados. Todos sofrerão.
O sentimento indígena está mais forte do que nunca. É assim que se faz história. Preenchendo o vácuo político criado pelos crassos erros, equívocos e pela soberba dos outros.
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