Antropologia
Sobre o Conflito no Egito
Os Estados Unidos já entraram em muitas guerras em nome da ?democracia? e da ?liberdade de expressão?. Eles se apresentam ao mundo como guardiães dos valores liberais e enchem a boca para apontar o arbítrio de ditaduras inimigas vigentes em países como Coréia do Sul, o ex-Iraque e a pequena ilha de Cuba.
Mas nem todos os ditadores são mal vistos. Afinal, conforme uma frase de um conhecido general norte-americano: ?os nossos ditadores são sempre bem vindos no Pentágono?. Sim, ?os ditadores? apadrinhados pelo ?Tio Sam? podem tudo: matar, desrespeitar os direitos humanos, desenvolver bombas atômicas e manter um povo inteiro submetido ao terrorismo de Estado. Quando o assunto é ?os nossos ditadores?, tudo é válido: roubar, matar, passar por cima dos direitos civis... A lista de ?liberdades? que o governo dos Estados-Unidos concede aos seus ditadores pode ser infinita.
Já os ?outros ditadores? ? o chamado ?eixo do mal? - esses devem ser perseguidos em nome da ?democracia?. Mas não qualquer democracia: é preciso criar a opinião pública. Se os democratas forem muçulmanos, por exemplo, bem... Talvez a democracia não seja um bom negócio mesmo.
Em um artigo publicado por um jornalista norte-americano, ele comentava que o governo do seu país estava ?indeciso?, pois não sabia se apoiava o seu colega ditador ou exigia do mesmo uma guinada em direção à democracia. Mas, como tudo na vida, havia um ?porém?... O ?problema? é que os únicos partidos políticos organizados existentes no Egito são muçulmanos... Bem, então, vejamos... Conclusão do renomado jornalista: é preciso criar um partido ?realmente? democrata e conduzi-lo ao poder. Ironia do destino: será possível falar em democracia quando essa democracia é uma imposição? Mais grave ainda, será que a democracia pode ser forjada pelo governo de outro país? Será que a ?vontade popular? pode ser fabricada? Afinal, se o governo é do povo, não caberia ao povo egípcio decidir qual partido político deve assumir o poder?
Da mesma forma, ditaduras sul-americanas foram apoiadas durante os anos de Guerra-Fria: Argentina, Brasil e Chile são exemplos históricos que não podem ser negligenciados. Durante os anos de chumbo, governos eleitos popularmente eram combatidos, enquanto ditadores fascistas eram mantidos no poder. Afinal, é de conhecimento público onde estava o porta-aviões da armada Ianque quando Jango e Brizola fugiram do país pela porta dos fundos. Nessa época, a democracia não era bem vinda! Não! Sob essas circunstâncias, era melhor manter ditaduras ?amigas? do que arriscar dar voz ao povo.
Ao ver os egípcios nas ruas, lutando por liberdade e justiça social, lembrei dessas ironias da história e fiquei tentando imaginar qual seria a atitude de Obama caso ainda vivêssemos sob o clima mais do que pesado da guerra-fria. Acho que os seus soldadinhos de chumbo seriam mobilizados e o exército esmagaria com violência a tal democracia que eles tanto defendem.
Mesmo diante de um contexto bastante diferenciado, a hipocrisia norte-americana continua ativa. Onde estão os valores democráticos? Por que todo esse silêncio e esse marasmo? As declarações são sempre evasivas, reflexo de uma ?indecisão? estratégica. Afinal, todos sabem que o ?ditador?, neste caso, era amigo íntimo do Pentágono. Seus militares freqüentavam os cursos norte-americanos, tomavam cafezinho com seus colegas de farda. Enquanto isso... No Egito, o povo sofria com as maiores injustiças. Mas o que importa? Para os generais norte-americanos a democracia é uma palavra vazia mobilizada em momentos estratégicos, seja contra ou a favor do povo.
Só espero que os egípcios possam viver sua própria democracia e não uma democracia imposta pelo olhar vigilante do velho ?Big Brother?!
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