Antropologia
Os princípios do desenvolvimento mental e o problema do atraso mental – Leontiev.
O objetivo é chegar à formulação de alguns princípios do desenvolvimento que podem eliminar muitas das dificuldades que encontram os que trabalham com crianças mentalmente atrasadas.
As investigações realizadas por médicos e psicólogos utilizam de métodos tecnicamente imperfeitos. Há também outro fator, que consiste em uma insuficiente compreensão da natureza da subnormalidade ligada a concepções teóricas sobre o desenvolvimento mental da criança.
Sobretudo a teoria de ação dos dois fatores; por um lado, fatores endógenos e biológicos; por outro, fatores exógenos e ambientais.
Por exemplo, se a criança mostra um atraso a respeito do nível alcançado pelas outras crianças da mesma idade em condições externas semelhantes, não pode se dizer que o atraso se deve ao fator ambiental. E se a criança não mostra nenhuma característica patológica, avança-se a hipótese de fatores internos, como a inteligência em geral. Donde a utilização de métodos para medir o coeficiente de inteligência.
No melhor dos casos as medições que se obtêm servem para dar uma idéia superficial do nível de desenvolvimento da criança. Além disso, não fornece bases para desenvolver métodos a serem usados com as diferentes crianças ou grupos de crianças. E a pretensão de que os testes estudam valores permanentes, difunde a idéia de inevitabilidade do atraso mental.
O primeiro dos princípios formulados por Leontiev é:
1-O desenvolvimento mental da criança como processo de assimilação da experiência do gênero humano.
O desenvolvimento mental da criança é diferente do desenvolvimento ontogênico do comportamento dos animais. O aspecto principal do desenvolvimento da criança é o processo de assimilação ou “apropriação” da experiência acumulada pelos homens no decurso da historia social, que ao contrário das conquistas do desenvolvimento filogenético dos animais, não estão morfologicamente fixadas e não se transmitem hereditariamente. Este processo produz-se na atividade da criança com referencia a objetos e fenômenos do mundo que a rodeia, no qual se realizam as conquistas do gênero humano. Esta atividade não pode desenvolver-se na criança independentemente, mas desenvolve-se mediante as relações praticas e verbais que existem entre ela e as pessoas que a rodeiam, na atividade comum; quando o objetivo específico desta atividade é transmitir a criança determinadas ações, capacidades e hábitos, dizemos que a criança aprende e o adulto ensina.
Parece que a criança, neste processo, é impulsionada por vezes pelas suas próprias capacidades e funções mentais naturais, que o êxito depende destas. Mas não é assim. As suas capacidades humanas formam-se neste processo funcional. Esta afirmação constitui o conteúdo do segundo principio que caracteriza o desenvolvimento mental da criança.
2 – O desenvolvimento das aptidões como processo de formação de sistemas cerebrais funcionais.
A afirmação de que as capacidades e funções mentais formadas no processo de desenvolvimento histórico-social se reproduzem nos indivíduos mediante a um processo de aquisição durante, e não devido a ação da herança social da herança biológica, coloco o complexo problema do fundamento anatómico-fisiológicos destas capacidades e funções.
Sob um ponto de vista cientifico, materialista é impossível postular a existência de capacidades e funções que careçam de órgãos especializados. A presença no homem de variadas correspondentes estruturas cerebrais inatas, ou seja, todas as capacidades e funções representam funcionamento de órgãos específicos. Afirmação valida no que respeita as capacidades criadas no homem durante o desenvolvimento social, presume se a sua direta dependência da hereditariedade.
Aproximando-se do desenvolvimento da fisiologia da atividade nervosa superior, teria outra concepção sobre o assunto, afirmando que simultaneamente a formação dos processos mentais superiores se também na criança os órgãos cerebrais essenciais para o seu funcionamento.
Uma vez formados, funcionam como um órgão individual, como por exemplo, a capacidade de perceber diretamente as relações espaciais, quantitativas e lógicas. Outra característica é a duração, os sistemas funcionais são formados por conexões condicionadas, mas não se extinguem diferente dos reflexos condicionados. Uma terceira característica é dada pelo fato de que estes sistemas duram tanto que os seus diversos componentes podem ser substituídos por outros, tornando estável todo o sistema funcional.
Os órgãos funcionais produzem- se mediante ao mecanismo comum de formações das conexões condicionadas, mas não da mesma maneira como se formam as concatenações de reflexos condicionados ou os estereótipos dinâmicos. Conexões se formam na unificação num sistema único de atos reflexos independentes com os seus diversos efeitos motores, realizando-se mediantes a unificação dos efeitos motores.
No processo de formação desta estrutura as ações produzidas pelos efeitos motores destes atos reflexos estão ligadas entres si. Estas ações, ao representarem um sistema motoro funcional, tem sempre ao princípio uma forma externa máxima diferenciada.
Algumas experiências foram realizadas na Universidade de Moscou, seguindo a formação de determinadas sistemas sensoriais funcionais, e de modo particular dos sistemas de percepção dos tons. Com as experiências puderam reorganizar ativamente os ouvidos dos sujeitos, ativando e regulando um importante componente motor (conciliando a percepção do som e o seu tom fundamental com o canto em voz alta).
Estas investigações realizadas com sujeitos normais e com as crianças mentalmente atrasadas permitem realizar a seguinte afirmação: a criança não nasce com órgãos preparadas para cumprir funções que representam o produto do desenvolvimento histórico do homem; estes órgãos desenvolvem-se durante a vida da criança, derivam da sua apropriação da experiência histórica. Os órgãos destas funções são os sistemas funcionais cerebrais (órgãos fisiologicamente moveis do cérebro), formados com o processo efetivo de apropriação.
A formação destes sistemas não se produz da mesma maneira em todas s crianças; segundo a modalidade e condições do processo de desenvolvimento, podem forma-se por vezes em medida inadequada ou até nem se formar (por exemplo o fenômeno da surdez a sons diferentes sob o ponto de vista do tom base). Neste caso, na base de uma rigorosa analise da estrutura dos correspondentes processos, é possível reorganizar ativamente ou formar “ ex novo “ os sistemas funcionais subjacentes, os órgãos funcionais. Referindo não só aos sistemas motores e funcionais, mas também aos sistemas de regulação da linguagem e a própria linguagem.
3. O desenvolvimento mental da criança como processo de formação das ações mentais
Nessa parte do texto o autor explica como funciona a aprendizagem da linguagem. A linguagem é a condição mais importante para o desenvolvimento mental, e a criança entra muito depressa em comunicação.
A criança, para conseguir desenvolver a linguagem, precisa primeiro desenvolver nela os processos cognoscitivos adequados.
Existem duas hipóteses que o autor diz que são insustentáveis na formação dos processos cognoscitivos. Primeiro: a afirmação injustificável segundo o qual a criança possui funções e operações cognoscitivos mentais desde o nascimento. Segundo: a afirmação simplista segundo a qual a operação de pensamento se formão sob a influência da experiência pessoal e individual.
Na realidade, a formação dos processos de pensamento da criança baseia-se numa experiência individual relativamente breve e avança com bastante rapidez.
Para aprender conceitos, generalizações, conhecimentos, a criança deve formar ações mentais adequadas. De início, assumem a forma de ações externas que os adultos formam na criança, e só depois se transformam em ações mentais internas.
Em uma etapa a criança começa a contar em voz alta, prescindindo dos objetos externos. Nesta etapa a ação converte-se em ação teórica; agora é uma ação baseada m palavras, em conceitos verbais.
Durante a etapa seguinte, a ação é transferida no seu conjunto para o plano mental, onde fica sujeita a posteriores mudanças, até que adquire todas as características próprias de uma ação interna de pensamento.
O autor teve que deixar de lado muitos problemas importantes referentes ao atraso mental. Ele então enumerou os mais importantes. O primeiro refere-se as influências das condições sociais em que a criança se desenvolve. Além disso, existe o problema do papel dos supostos biológicos e das características individuais. Por último, estão os problemas referentes às características da esfera emotiva e motivacional da personalidade da criança.
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