Antropologia
o saber dos antropólogos
O saber que um antropólogo adquire no seu campo reveste dois aspectos: documentação e intuições. O antropólogo transporta na sua bagagem um diário de campo, um ficheiro lingüístico, um herbário, mapas, esboços, fotografias, fitas magnéticas, genealogias, textos, protocolos e blocos cheios de observações rabiscadas sobre os joelhos, na penumbra duma cabana de fumo, encostado ao tronco de uma árvore, durante uma deslocação na floresta, ou à noite, finalmente sozinho, à luz dum candeeiro a petróleo. Nestes documentos trata-se de homens, mulheres, crianças, paliçadas, vizinhança, aldeias, campos, trabalhos agrícolas, técnicas artesanais, cozinha, plantas, animais, mercados, festas, sacrifícios, consultas a advinhos, crises de posse de terras, conflitos, assassínios, vinganças, funerais, assembléias, chefes, antepassados, cantos, sonhos e da razão pela qual as serpentes não tem patas.
Estes documentos heteróclitos são, para o antropólogo, o resultado e testemunho de uma experiência coerente: progressivamente, a sociedade onde viveu tornou-se-lhe familiar, aprendeu a comportar-se e apercebeu-se do que há a ter em conta nela, pôde antecipar as respostas adequadas às perguntas, reconheceu o humor ou a gravidade numa conversa, a ternura ou a frieza dum gesto, riu e chorou com seus anfitriões. Possui, então, um saber intuitivo que lhe permite compreender os documentos que reuniu e situá-los uns em relação aos outros.
É, de qualquer modo, uma aposta o facto de condensar num livro, que se pode ler em algumas horas, uma experiência de vários anos, sem equivalente na vida da maior parte dos leitores. A esta dificuldade inicial acrescentam os antropólogos uma outra, pretendendo que seus trabalhos etnográficos não patenteiem apenas uma experiência de campo, mas também que sirvam de uma base a uma Antropologia comparativa ou geral. Para conciliar estes objetivos, a maior parte dos antropólogos adota, nas monografias, um estilo amenizado de discurso: o documento quase nunca aparece sem tratamento e a especulação teórica é reduzida ao mínimo.
Sperber, Dan.
O saber dos antropólogos. Lisboa: Edições 70.
(pp. 16-17)
loading...
-
As órbitas Do Sítio: Subsídios Ao Estudo Da Política Indigenista No Brasil, 1910?1967
de Antonio Carlos de Souza Lima Faça aqui o download dessa publicação na íntegra A versão impressa estará disponível para aquisição em
[email protected] Três décadas depois de sua constituição, um balanço inicial revela que...
-
Quando O Campo é O Arquivo
O objetivo do Seminário "Quando o Campo é o Arquivo" é refletir sobre o uso de fontes arquivísticas na pesquisa antropológica e sua relação com a produção etnográfica. A primeira edição do seminário (2004) teve como objetivo reunir trabalhos...
-
O Que é Que Os Antropólogos Fazem?
(tradução resumida e livre do original da AAA) Para determinar se uma carreira de antropólogo é para você, pense sobre as seguintes questões: O que você quer saber? Antropólogos querem saber porquê as coisas acontecem. Por exemplo, sabemos como...
-
A Invenção Da Cultura - Roy Wagner
"(...) o antropólogo é obrigado a incluir a si mesmo e seu próprio modo de vida em seu objeto de estudo, e investigar a si mesmo. Mais precisamente, já que falamos do total de capacidades de uma pessoa como 'cultura', o antropólogo usa sua...
-
Os Brasileiros Sempre Foram Pós-modernos
Para o antropólogo francês Bruno Latour, os brasileiros são os mais preparados para a criação de novas disciplinas e novas coletividades Entrevista com Bruno Latour realizada por Marcelo Fiorini publicada na Revista Cult. O modernismo seria então...
Antropologia