Antropologia
O Acre na frente
As coisas acontecem no Acre diferente de outras partes do Brasil. Na questão indígena, o Acre parecia não ter índios até 1975, quando lá apareceu o indigenista José Porfírio de Carvalho e começou a dar condições aos índios, que viviam misturados no meio da população cabocla, a se assumirem como tais e a terem suas terras reconhecidas.
Depois foram acreanos que continuaram esse trabalho.
Hoje os Kaxinawa, os Yawanawa, os Apurinã e outros têm bastante autonomia na organização de suas sociedades e no modo de exercer soberania em seus territórios.
A matéria abaixo trata do movimento político dos Kaxinawa no município onde vivem, onde são políticos e administradores. Vamos torcer para que continuem assim.
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Huni kuins decidem tomar em suas mãos a obra de construção de um futuro baseado na cultura tradicional
Juracy Xangai, da Revista 20
Os 1.180 índios kaxinawás, auto-denominados huni kuin (povo da noite) estão trabalhando para transformar os 110 mil hectares de suas terras banhadas pelos rios Tarauacá e Jordão numa área em que o desenvolvimento sustentável e a preservação de sua cultura seja uma prática autêntica e verdadeira.
Para isso, os moradores das três terras indígenas que se complementam decidiram formar uma verdadeira república indígena liderada pelo vice-prefeito do município de Jordão, Siã Kaxinawá, o qual fazquestão de destacar que: "Lamentamos aparecer no Índice do Desenvolvimento Humano (IDH) como o segundo pior município do Brasil no que se refere à qualidade de vida de nossa população. Isto é conseqüência de más administrações passadas, o que vem sendo corrigido nestes últimos anos com ações promovidas pelos governos federal, estadual e municipal, mas é preciso tempo e muito trabalho para que os efeitos disto seja percebdio de forma mais concreta", explica Siã.
Apesar dos números apresentados pelo IDH, os quais Siã não contesta, mas faz questão de lembrar que esse índice não leva em conta a cultura tradicional e a qualidade de vida das famílias que embora não dispondo de energia elétrica, água encanada e esgoto, passam seu tempo tranqüilo entre os afazeres diários, sem violência, sem fome, portanto, felizes em seu modo de ser.
Por conta disso, os huni kuin liderados por Siã que representam praticamente metade da população do município decidiram que trabalhando em parceria com o prefeito Hilário de Melo iniciam uma jornada de ações que garatam melhorias na qualidade de vida da população que vive nas 28 aldeias do município.
"Ao contrário de muitos que pensam que a solução para nossos problemas está em aprender a viver como os brancos, nós entendemos que precisamos dominar a tecnologia sem abrir mão de nossa história, nossos usos e costumes, nossa língua, em fim, de nossa cultura tradicional que há milhares de anos garante a sobrevivência e qualidade de vida à nossa gente".
Embora defenda com firmeza a identidade cultural e religiosa da nação huni kuin, Siã é enfático ao afirmar que : "Para conquistarmos nossos desenvolvimento sustentável dos pontos de vista econômico e ambiental de um modo socialmente justo, também defendemos que não mais haja discriminação entre as pessoas dos diferentes grupos humanos para que possam viver com liberdade e igualdade que garantam uma vida digna para todos nós".
Neste governo huni kuin são as lideranças de cada comunidade que defendem e executam as decisões coletivas através de programas comunitários de desenvolvimento. Professores indígenas lideram o esforço coletivo para acabar com o analfabetismo bilíngüe (português e o hãtaxa kuin).
Agentes de saúde indígena e médicos trabalham de mãos dadas com a medicina tradicional melhor traduzida na ação indispensável das parteiras que trazem ao mundo os mais novos habitantes da floresta e pelos pajés verdadeiras bibliotecas de sua história e rituais que garantem a saúde do corpo e da alma.
Agentes agro florestais indígenas cuidam da floresta e trabalham pelo desenvolvimento sustentável, seja pela criação de sistemas agro-florestais que proverão a fartura de frutas e madeiras nobres, como também pela criação extensiva de tracajás e outros animais silvestres que ajudarão a diminuir a pressão da caça predatória sobre a natureza.
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