Os ticunas integram o mais numeroso grupo indígena da Amazônia, que é distribuído por três países: Brasil (em maior número), Peru e Colômbia. No livro Minha luta pelo meu povo (Eduff, 152p.), a pesquisadora Marília Facó Soares apresenta a narrativa do ticuna Ngematücü ou Pedro Inácio Pinheiro que conduz o leitor por um universo bem brasileiro e, antes, inimaginável. A obra revela, em diferentes escalas de tempo e espaço, um curioso percurso histórico e contempla variações linguísticas dos povos de mesma origem e que falam a mesma língua.
A narração de Ngematücü, realizada em 1983, mereceu uma transcrição fonética e resulta de um processo colaborativo entre outros ticunas. Editado em versão bilíngue em ticuna e em português, em páginas lado a lado o livro respeita a retórica indígena e procura mostrar a beleza do texto em ticuna, além de ser apresentado de forma a possibilitar a sua utilização nas escolas locais. Desta forma, constitui-se como material de extrema relevância para a documentação e preservação das memórias histórica e cultural dos habitantes da região e, também, como subsídio à continuidade do projeto Línguas da Amazônia Brasileira: Variação, Cognição e estudos de Fonologia, Gramática e História, sob a coordenação da autora, professora Marília Facó Soares.
Complementam o livro, fotos, mapas e ilustrações representativos desse universo e de sua cultura material em uso ou abrigados em museus. Entre as fotos, muitas feitas há mais de 60 anos por Curt Nimuendajú, etnólogo alemão que conviveu com variadas etnias indígenas, de diversas regiões do Brasil.
Trecho Agora, existe para mim a minha idade, trinta e oito anos, mas naquele tempo, antigamente, eu primeiro, na minha infância, não tinha muitas coisas, nem existia conselho, meu pai mesmo nunca deu conselho para mim. Então, além disso, muitas vezes eu fiquei órfão, desde que eu era criança era órfão, desde cinco anos de idade mesmo fiquei órfão, eu. Então, naquela época, assim mesmo, quando fiquei órfão, para o meio dos homens eu fui, para o meio desses brancos eu fui?. Pedro Inácio Pinheiro (Ngematücü)
Opinião Este livro leva-nos a uma fascinante aventura intelectual, que pode ser vivida por todos os leitores, mesmo aqueles que não conhecem a língua e a cultura ticuna: de um lado, faz-nos mergulhar em camadas da História do Brasil para as quais não se costuma dar importância, como se elas não existissem; de outro, faz-nos entrar no universo linguístico ticuna.? José Luiz Fiorin, Universidade de São Paulo (USP).
Sobre a autora Marília Facó Soares iniciou suas pesquisas linguísticas na Amazônia, nos anos 1980. Uma das primeiras aldeias em que realizou trabalho de campo foi a Vendaval, no Amazonas. Naquela época, pesquisava para sua tese de doutorado na área de Linguística pela Unicamp sobre a língua Ticuna, falada por um dos maiores grupos indígenas do Brasil. Atualmente, é professora associada do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Suas atividades também incluem, há mais de dez anos, o campo da educação, como assessora de projetos voltados diretamente para populações indígenas. Coordenou e executou trabalhos linguísticos voltados para inventários e acervos de pesquisa e recebeu, no Brasil, prêmios por projetos sobre línguas indígenas. Além de prosseguir com suas investigações sobre os ticunas, conhece outras línguas indígenas, em especial das fa mílias tupi-guarani e pano.
Para comprar o livro na loja virtual da EdUFF:
http://www.editoradauff.com.br/ciencias-humanas/313-tchoru-duuuuguca-tchanu-minha-luta-pelo-meu-povo-9788522810390.html