Índios Pareci, Nambiquara e Bakairi fazem protesto na FUNAI
Antropologia

Índios Pareci, Nambiquara e Bakairi fazem protesto na FUNAI



Ontem a FUNAI, em Brasília, foi palco de uma grande demonstração por parte de cerca de 250 índios que vieram do Mato Grosso, precisamente da região oeste do estado, onde vivem os grandes povos Pareci, Nambiquara, os Irantxe, Bakairi, Umutina e Chiquitanos.

Os índios vieram para protestar contra alguns atos e posicionamentos que estão sendo feitos pela atual direção da FUNAI.

O principal deles é que não querem que o Estatuto do Índio seja posto em votação no Congresso Nacional.

Argumentam que não é hora de se mexer com uma lei que até agora só fez bem aos povos indígenas. Apresentá-lo à mudança num Congresso que vivencia um forte anti-indigenismo é uma temeridade política e uma irresponsabilidade imensa.

A atual direção da FUNAI tem feito um grande esforço para convencer os índios de que o Estatuto deve ser modificado, seguindo as orientações que vêm das Ongs neoliberais, principalmente do ISA e do CTI, mas também com a conivência do CIMI e até, pasmem, do Ministério Público Federal.

O principal instrumento para convencer os índios, ou melhor para se legitimar nessa tentativa, tem sido a Comissão Nacional de Política Indigenista, órgão que está marcado pela influência dessas Ongs. A FUNAI tem promovido algumas reuniões em regiões brasileiras para convencer os índios a acatar as propostas de um novo estatuto, inclusive para retirar do texto legal o instrumento da tutela. Enquanto isso, os projetos de lei anti-indígena estão pululando no Congresso Nacional. Mas as Ongs neoliberais acham que podem conter a avalanche anti-indígena prevalecente na atualidade, boa parte dela insuflada por atos irresponsáveis da atual direção da FUNAI.

A outra grande motivação da vinda de tanta gente é o reconhecimento de que a atual direção da FUNAI não tem tido o devido respeito para com os povos indígenas e suas lideranças. A FUNAI só tem dado atenção para os índios que fazem parte da cota de influência das Ongs. Assim falaram os líderes Pareci e Nambiquara. Sentem-se desprezados e desconsiderados. Aliás, esse é um sentimento de todas as lideranças indígenas, bem como da grande maioria dos funcionários do órgão.

Por outro lado, os Pareci vieram para resolver alguns problemas pendentes em relação à sua auto-sustentação. Há uma dezena de anos que os Pareci vêm produzindo soja e milho através da chamada lavoura mecanizada. Isto é, por meio de tratores, adubos, colheitadeiras, etc. O capital investido vem de fazendeiros e bancos locais, que fornecem o maquinário, sementes, adubos, etc., enquanto o trabalho de produção é realizado diretamente pelos índios, muitos dos quais aprenderam a usar desse maquinário, a usar de técnicas de contabilidade e se haver com as questões de transporte. Os Pareci têm obtido um sucesso singular entre os povos indígenas nesse mister. Querem continuar a fazer lavoura mecanizada e querem ajuda da FUNAI, se não de bancos federais, para obter capital por conta própria e irem aos poucos se livrando do capital dependente dos fazendeiros. Seu protesto é que a atual direção da FUNAI não dá a mínima para essa atividade; ao contrário, considera-a ilegítima pelo relacionamento com os fazendeiros.

O protesto dos índios Pareci, Nambiquara e outros marca o início das demonstrações dos povos indígenas em relação à situação que vivem atualmente. Provavelmente no próximo ano uma onda de reivindicações vai varrer o meio indígena brasileiro. Uma administração retrógrada e dependente da ideologia das Ongs está atrasando o auto-desenvolvimento dos povos indígenas brasileiros.

As Ongs neoliberais que tanto influenciam a FUNAI vivenciam um momento de atraso político, como se estivessem na década de 1990. Os índios sabem onde estão, como vivem e as dificuldades que passam. Fazem sua reflexões e elas são diferentes do que pensam as Ongs neoliberais. Os índios querem ser protagonistas de seus destinos, sabem que precisam do auxílio dos indigenistas para os ajudarem, preferem a visão laica do mundo para se nortearem do que a visão messiânica que domina as ongs neoliberais.

O resultado desse grandioso protesto está ainda para acontecer. Não dá para ver se será ignorado ou se provocará uma resposta condigna da FUNAI. Uma comissão de índios vai permanecer em Brasília para aguardar as providências mais imediatas. Por sua vez, ficou estabelecido que não se levasse adiante a pretensão de mudar o Estatuto do Índio, nem que decisões importantes fossem tomadas pela CNPI sem a consulta com as comunidades indígenas, pois esse órgão não estaria representando os povos indígenas em toda sua complexidade e não seria tampouco uma instância superior de decisão dos povos indígenas.


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Índios protestam contra revisão de lei indígena

G1-O Globo

Cerca de 250 indígenas de Mato Grosso se dirigiram nesta quarta-feira (3) a Brasília para reivindicar mudanças nas políticas da Funai (Fundação Nacional do Índio). Eles se reuniram com o presidente da instituição, Márcio Meira, e pedem que não seja feita a revisão do Estatuto do Índio, a lei que regulamenta o tratamento dado pelo governo aos povos indígenas no Brasil.

Atualmente, tramita no congresso uma proposta de mudança do estatuto. Um dos temas polêmicos é a regulamentação da mineração em terras indígenas. ?Queremos que o estatuto não seja alterado, pois ele atende a todas as nossas necessidades?, reclama Roni Pareci, um dos líderes do movimento indígena de Mato Grosso.

O indígena pareci também afirma que a Funai tem se distanciado muito dos índios, e suas decisões são baseadas na opinião de ONGs, e não de povos indígenas. ?Não queremos que a Funai seja tomada por uma ideologia ?onguista?, desconsiderando nossos anseios, nossos propósitos.?

Os indígenas de Mato Grosso representam as etnias Pareci, Xavante, Chiquitanos, Bakairis e Nhambiquaras, e ameaçam levar mais pessoas à sede da Funai caso suas reivindicações não sejam atendidas



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