Antropologia
Índios do Xingu fazem Funasa refém
Tudo acontece na questão indígena hoje em dia.
Até no Parque do Xingu estão apelando para reter pessoas para protestar. Esse fato excepcional aconteceu com funcionários da Funasa. Parece até que é uma febre. Pode se espalhar.
Na verdade, esse fato foi criado por alguns jovens que pretendem trazer novo estilo de liderança no Alto Xingu. O porta-voz parece ser um jovem Kamaiurá, mas a ação foi tomada por índios Ikpeng, que vieram ao Parque há 40 anos e estão no processo de reconhecimento de suas terras fora do Parque. É uma pena. A causa pode até ser justa, mas o método é inédito. O Parque do Xingu tem uma tradição de paz e negociação único no Brasil e raríssimo na humanidade. No seu relacionamento com a sociedade nacional, mediato pelos irmãos Villas-Boas, sempre prevaleceu um espírito de conversa e negociação, nunca imposição.
Se algo não for feito pelas lideranças tradicionais, vamos ter outra situação no Parque do Xingu. Lamentável.
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Lideranças indígenas fazem 14 reféns
DIÁRIO DE CUIABÁ - MT
Entre servidores da Funasa e pesquisadores, índios ikepeng mantêm pessoas aprisionados no posto Pavuru por insatisfação quanto a mudança de funcionário
KEITY ROMA
Lideranças indígenas do Parque Nacional do Xingu mantêm ao menos 14 reféns dentro da área do Posto Indígena Pavuru, na área da etnia Ikepeng, município de Feliz Natal, na região nordeste de Mato Grosso. Servidores da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e pessoas ligadas a outras entidades que mantêm contato com os índios estão impedidos de deixar o local desde anteontem, mas não seriam vítimas de violência.
A ação é uma tentativa de reverter a remoção do servidor de Jamir Alves Ferreira. Ele é responsável pelo Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) de Canarana, uma subdivisão da coordenação regional da Funasa em Mato Grosso. Segundo o órgão, ele seria transferido para outra região do país e uma pessoa seria nomeada para o cargo. A decisão não agradou às 14 tribos, pois todas gostam de Jamir.
Apesar da Funasa, em Brasília, divulgar que 11 servidores estão presos na área, existem mais três pessoas ligadas à Universidade Federal de São Paulo no local, possivelmente estudantes de medicina. Como o acesso à tribo é difícil, são 12 horas de barco e 1h30 de avião até o município de Sinop, pólo mais próximo, muitas informações são imprecisas.
O auxiliar de enfermagem da Casa de Apoio ao Índio (Casai) de Sinop, Moia Kayabi, conversou durante toda a tarde com os indígenas por meio de um rádio amador, a única forma de contato possível na região. Um dos reféns é justamente o chefe da Casai, Carlos Moreira. O diretor do departamento de Saúde Indígena da Funasa, Wanderley Guenka, se deslocou de Brasília para o Xingu ontem. Ele se reuniu com os manifestantes, mas a assessoria de imprensa da Funasa não soube informar o resultado das negociações.
Contudo, os índios teriam afirmado a Moia no final da tarde que só libertariam os prisioneiros quando o coordenador regional da Funasa em Mato Grosso, Marco Antônio Stangherlin, chegasse ao local para resolver o impasse. O assessor de Stangherlin, Carlos Augusto Castro, afirmou que o coordenador estava em Colíder buscando uma alternativa para o problema.
Para o Diário Regional em Sinop, o coordenador chegou a negar que houvesse reféns. "Acredito que não exista revolta contra a nomeação, até porque Jamir vai continuar trabalhando na unidade. Eu nomeei outro chefe somente porque estou montando minha equipe de trabalho, já que assumi o cargo há 90 dias", disse o coordenador.
A insatisfação dos índios é fruto da amizade que mantêm com Jamir, que foi ontem para o Xingu e está no cargo desde 2005. Entre os dias 23 e 25, as lideranças indígenas discutiriam os planos de ação com o Conselho de Saúde Indígena para 2008 no Posto Pavuru. No último dia da reunião, o grupo recebeu o comunicado de que Jamir seria exonerado, segundo relatos de Moia.
Inconformados, resolveram não liberar as pessoas que estavam no local. Os onze funcionários da Funasa ficam constantemente na região de Canarana. Há entre eles um índio Kayabi, chamado Yifuka Sikan Aiguré. Já os paulistas estavam lá porque fazem parte do Projeto Xingu, da Universidade Federal de São Paulo, Escola de Medicina.
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