Governador do Mato Grosso do Sul mostra a que veio
Antropologia

Governador do Mato Grosso do Sul mostra a que veio



Impressionante o destempero verbal e a virulência do ataque que o governador do Mato Grosso do Sul, André Pulcinelli, fez à FUNAI, em reunião ontem com 42 lideranças e na presença do administrador da FUNAI em Campo Grande.

A matéria abaixo dá detalhes do diálogo enervado com os índios e do discurso autoritário e desproporcional que o governador usou. Menciona muitas vezes o modo oprimido e humilhado com que os índios reivindicaram ações do governo daquele estado.

Uma vergonha para os matogrossenses do sul.

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André xinga a Funai em evento com os índios

Celso Bejarano Jr.
Alessandra Carvalho


O governador André Puccinelli, do PMDB, disse nesta manhã durante audiência com lideranças indígenas que a Funai, entidade nacional cuja missão é só cuidar dos interesses dos índios, ?não serve para p... nenhuma?.

Ao menos 42 lideranças e outros 40 índios ligados a elas ouviram os insultos durante a reunião que encheu o auditório no prédio da governadoria, em Campo Grande. E ninguém se manifestou contra o discurso, nem o administrador do órgão em Campo Grande, o recém-empossado Jorge das Neves.

Os índios que participaram da audiência marcada para que eles reivindicassem melhorias em suas aldeias não se vestiram como índios ou puseram no corpo alguma peça que caracterizava etnias, prática comum entre eles em eventos públicos.

Os índios que lá estavam habitam aldeias da região noroeste de Mato Grosso do Sul, como os guatós, kadwéus e terenas.

Nos discursos que fizeram eles pediram apoio para tocar lavoura nas aldeias e elogiaram a gestão de Puccinelli.

No final do evento, que durou cerca de duas horas, pelo menos 80 índios foram almoçar numa churrascaria da cidade e a conta seria paga pelo governo de Puccinelli.

O ataque

O governador atacou a Funai por seguidas vezes: disse que o órgão pouco contribui com as comunidades indígenas e que o seu governo é quem tem dado apoio a elas, citando entre os feitos a construção de casas e a liberação de cestas básicas.

Cálculos de Puccinelli indicam que o governo dele construiu em dois anos 918 casas nas aldeias, aumentou de 84 para 120 o número de vagas destinadas aos índios nas universidades e que hoje distribui algo em torno de 14.200 cestas básicas nas aldeias.

?E durante a campanha eleitoral, diziam que o André aqui ó [encostando a mão no peito] é quem não gostava de índios, queria matar os índios. Meu governo trabalha pelo índio, enquanto isso a Funai não faz p... nenhuma. P... nenhuma?, disse repetidas vezes.

Das 42 lideranças indígenas, 12 fizeram discursos que duraram de três a cinco minutos cada. Alguns deles:

Ademir, cacique dos kadwéus, pediu que o governo cedesse maquinário para a sua aldeia. Elisor, representante dos terenas de Sidrolândia, elogiou Puccinelli pela construção de casas e pediu para que o governo mande para aldeia um técnico agrícola.

Alceri, cacique em Aquidauana, após elogiar o governador pediu que a aldeia dele fosse asfaltada.

Juarez, da aldeia Babaçu, em Miranda, elogiou o governador e pediu mais programas ligados a educação e agricultura.

Roque, cacique da comunidade Brejão, em Nioaque, brincou com Puccinelli ao dizer que sua aldeia sempre vai manter as ?portas abertas? ao governador.

O governador arrancou sorrisos de outros líderes ao dizer que ?Roque estava catequizado?, isto é, agindo como político.

Edmilson George, cacique da aldeia Lagoinha, em Aquidauana, que disse ter sido chefe da campanha eleitoral de Carlos Marum, secretário estadual da Habitação, gastou seu tempo de discurso para elogiar o governador.

Após a audiência, Puccinelli conversou com os líderes e prometeu ajuda.

Nenhum líder indígena mencionou na reunião o atual programa tocado pela Funai que prevê a demarcação de terras indígenas no Estado.

Nem sobre os casos de suicídios ocorridos nas aldeias da região Sul do Estado, as mais afetadas pela pobreza



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