Antropologia
Belo Monte de Frustrações
Nesses últimos dias, desde que a atual direção da Funai declarou que não havia óbices à construção do canteiro de obras de Belo Monte, indigenistas e índios se uniram em rebelião contra o governo brasileiro.
Mas, o que quer dizer essa rebelião? É verdadeira, ou é só retórica?
Para a Associação Brasileira de Antropologia, rebelar-se contra Belo Monte significa fazer alguns discursos veementes contra o capitalismo internacional, culpado pela decisão de fazer hidrelétricas caras na Amazônia, e escrever um documento em que condena o Ibama por ter dado a licença, além de pedir ao governo que reveja o processo de audiências públicas e oitivas em relação aos índios. Nada se diz sobre o fato de que a licença só foi dada pelo Ibama porque antes foi concedida pela atual direção da Funai, à revelia de parecer contrário de seus técnicos.
Para a OAB, a rebelião significa condenar o processo de licenciamento por vícios legais, por passar por cima dos critérios mínimos de legalização de uma obra desse porte.
Para o Ministério Público, significa exigir que o governo refaça os estudos de impacto ambiental, considerando que eles foram tão mal feitos que nem merecem ser chamados pelo devido nome.
Para o público ambientalista, a rebelião significa protestar pela internet contra hidrelétricas na Amazônia, pelo menos contra uma tão grande assim; significa também conclamar o povo brasileiro a aprender a economizar energia.
Para uma parte da comunidade científica, dividida como sempre em assuntos dessa importância, significa demonstrar que há outras alternativas para o fornecimento de energia elétrica, tais como a eólica e a solar; ou, simplesmente, melhorar a eficiência das atuais hidrelétricas e das linhas de transmissão.
Para os ribeirinhos do rio Xingu, da Volta Grande, e dos igarapés que desembocam naquela altura do rio, a rebelião é uma dor de perda iminente, de sufoco, de grito no peito. Para onde irão? Como sustentarão suas famílias?
E para os índios? O que significa se rebelar contra Belo Monte?
Significa sofrer por um rio que parará de descer o seu curso natural. É o protesto da dor de sentir o perigo da destruição de suas vidas, de suas culturas, tal como as conhecem e tal como sonham que continuem a existir.
Belo Monte é o sinal dos tempos que estão a vir. É o pânico da destruição de suas florestas, de seus rios, de sua vida tradicional e imemorial -- que estão vendo correr nos últimos anos a uma velocidade nunca antes imaginada.
Raoni, o grande e respeitado, o venerando cacique Kayapó, tem se lembrado ultimamente que Orlando Villas-Boas, o grande sertanista que o ajudou a conhecer o mundo dos brancos, costumava dizer que os índios tinham que se preparar para o que viria pela frente. Agora, diz Raoni, ele está sentindo o valor dessas palavras e está percebendo o poder dos acontecimentos.
Para os índios, Belo Monte surge como a possibilidade de perda da viabilidade de suas culturas, tal como as vinham vivendo até recentemente. Alguém oferece uma alternativa viável, algum plano miraculoso que os tranquilize? Certamente que não.
Eis o desespero dos índios, mesmo daqueles que estão a milhares de quilômetros de distância.
_________________________________
Não demorou mais do que algumas horas após a reunião dos índios com o secretário executivo da Secretaria Geral da República, na qual ele prometera aos índios que levaria sua reivindicação para parar Belo Monte, e a presidente Dilma Rousseff se reuniu com o ministro de Minas e Energia e os presidentes do sistema Eletrobrás para decidir os próximos passos para a conclusão de Belo Monte.
Belo Monte está se tornando uma realidade, enfiada goela abaixo dos índios, dos ribeirinhos, dos ambientalistas e de todos aqueles que são contrários a esse tipo de construção, a essa forma de relacionamento com a sociedade brasileira, à perfídia da palavra sem valor.
loading...
-
Raoni Não Chorou
Veja no site do MércioGomes, merciogomes.com, matéria sobre o protesto de Raoni contra a licença dada pelo Ibama para a construção da Usina Belo Monte. Raoni diz que não chorou, mas que Dilma vai chorar. Blog do Mercio: Indios, Antropologia, Cultura,...
-
Índios Kayapó Avisam, Prometem, Ameaçam E Cumprem
Se existem índios decididos e valentes nesse país são os Kayapó. Todo mundo reconhece essas qualidades nos Kayapó, não desmerecendo os demais. Aliás, entre os demais estão aqueles acampados em frente ao Ministério da Justiça protestando contra...
-
Parece Que Os índios Não Vão Deixar Barato O Leilão De Belo Monte
Tudo indica que os índios Kayapó não vão deixar barato o leilão da Usina Belo Monte, programado pelo governo para o dia 20 de abril. Os índios Kayapó vão fazer uma grande assembleia na aldeia Pyaraçu, na beira do rio Xingu, entre os dias 5 e...
-
Belo Monte Será A única Usina No Rio Xingu!!
O Conselho Nacional de Política Energética -- CNPE -- acaba de decidir que a UHE Belo Monte será o único empreendimento de aproveitamento hidrelétrico do rio Xingu. Louvo essa decisão e afirmo aqui que, quando era presidente da Funai, conversei...
-
Nova Gestão Da Aba Reitera Alerta Da Cai E Moção De Repúdio à Hidroelétrica Belo Monte
"No momento em que os jornais noticiam pressões para a concessão da licença de instalação para a barragem de Belo Monte, a ABA vem a público reiterar sua posição a respeito do polêmico projeto. Em 01 de novembro de 2009, a Comissão de Assuntos...
Antropologia