Atual direção da Funai arrasa AER Goiânia
Antropologia

Atual direção da Funai arrasa AER Goiânia


O famigerado Decreto 7506/09, que pretendeu fazer uma nova estruturação da Funai, em voga desde 29 de dezembro de 2009, fez estragos por toda parte do mundo indígena. As administrações regionais da Funai estão sentindo suas repercussões ainda hoje, e esse desvario terminará criando um tsunami indigenista contra quem concebeu esse decreto e contra quem o está implementando na marra.

Já falamos desse Decreto de muitos modos. Recordemos alguns pontos fundamentais.

Em primeiro lugar, o Decreto 7506/09 extinguiu todos os postos indígenas, sob a justificativa de que eram um resquício da era rondoniana, uma política indigenista rejeitada porque vista como inadequada aos tempos neoliberais, daí sua substituição pelo termo anódino "coordenação técnica local", e que sua presença em terra indígena constituía uma atitude de proteção descabida aos povos indígenas. Agora os funcionários estão nas cidades, e os índios, quando precisam de qualquer apoio, vão às cidades à procura da Funai. Lá, em suas aldeias, ficam a Funasa, com seu indigesto indigenismo sanitário, as escolas dirigidas pelas professoras dos municípios, e os funcionários de municípios ou de ONGs que não deixam de aproveitar alguma coisa que pode vir dos índios: uma verbinha de algum ministério que eles trouxeram, ou uma boa verba de um projetinho obtida de alguma ONG estrangeira. A Funai não sabe mais do que acontece nas terras indígenas, a não ser via os experientes indigenistas e servidores que sentem no ar o processo de mudanças radicais que estão acontecendo com incrível rapidez.

Em segundo lugar, o Decreto extinguiu 24 administrações regionais da Funai, sendo que 10 delas foram substituídas por outras em cidades vizinhas (Redenção por Tucumã; João Pessoa por Fortaleza; Bauru por Itanhaém, etc.), enquanto algumas foram rebaixadas ao nível de "coordenações técnicas locais" (vide Recife, João Pessoa, São Luís, Curitiba, Porto Seguro, etc.), outras ao nível de "frente etno-ambiental" (vide o escandaloso caso de Altamira).

Porém, o caso mais escabroso, mais deletério, mais anti-administrativo, mais vingativo que se viu nesse Decreto de desestruturação da Funai foi o arraso que se fez da antiga e indigenisticamente sólida AER Goiânia, que não somente foi extinta como nem ficou para semente como uma simples coordenação técnica local.

Para atender aos povos indígenas que eram assistidos por Goiânia -- formalmente os índios Tapuios, Avá-Canoeiro e Karajá do Aruanã, mas verdadeiramente, uma gama de comunidades xavante e de outros povos que passavam por Goiânia -- foi criada, ao invés, uma tal coordenação técnica na cidade de Goiás Velho, cidade que nunca teve tradição de indigenismo, tampouco de administração indigenista. Até hoje os indígenas que eram assistidos por Goiânia estão ao deus-dará. Os Avá-Canoeiro da região norte do estado, no município de Minaçu, oito deles, tão-somente, a semente de uma possível reconstituição de um dos povos mais valentes que já houve na história do Brasil, os Avá-Canoeiro estão hoje à mercê de todas as possibilidades de invasão de suas terras e de falta de assistência indigenista. Não fosse, até agora, a dedicação voluntária de um respeitado indigenista de alta cepa, Walter Sanchez, que ainda está por lá, sem nenhuma orientação formal do órgão.

Já os Xavante, que sempre viram em Goiânia uma orientação para encontrar meios de avanço político e econômico, perderam a paciência com as últimas decisões da atual direção da Funai e estão agora prontos a tomar em suas mãos decisões mais drásticas do que até agora vinham fazendo. Eles não esquecem que foi de Goiânia, da sua liderança indigenista maior, que partiu a mais dedicada ação indigenista dos últimos dez anos, qual seja a retomada da Terra Indígena Marãiwatsede, dos índios Xavante. Os Xavante liderados pelo cacique Damião fizeram uma gloriosa retomada, que um dia será contada como uma saga indígena, mas, no seu auxílio, na sua retaguarda, estavam as figuras principais do indigenismo da AER Goiânia. Todos sabem disso e isso não pode ser esquecido.

Pois bem, para arrasar, queimar e jogar sal sobre a AER Goiânia, a atual direção da Funai mandou retirar todo o mobiliário da sede da AER de Goiânia, o que os seus servidores não deixaram fazer. Semana passada jogaram o sal ao publicar em boletim interno da Funai a transferência de todos os funcionários da AER Goiânia, desde o seu principal administrador -- enviado para o Alto Solimões !! -- até os motoristas e funcionários, enviados para administrações em Mato Grosso, Rondônia, Mato Grosso do Sul, Maranhão e Brasília!

Este Blog tem acompanhado a luta destemida dos servidores de Goiânia pela preservação de sua administração. Apelaram para os políticos locais de todos os partidos, inclusive do PT, que os apoiaram; apelaram para o governador e para o prefeito da cidade, que inclusive os apoiaram; apelaram para o arcebispo de Goiânia e para o bispo indigenista Dom Tomás Balduíno, que inclusive os apoiaram escrevendo cartas ao presidente.

Debalde. O presidente não demonstrou qualquer simpatia.

Neste último ano e um mês, os funcionários de Goiânia trabalharam dando plantão no órgão, batendo ponto, demonstrando estar em serviço -- sem que ninguém da atual direção da Funai tenha proferido uma instrução -- a não ser determinar sua retirada e agora a transferência sumária de seus funcionários.

Este Blog quer demonstrar sua solidariedade com os intrépidos e invencíveis servidores da AER Goiânia.

Eles não desistiram.



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