Antropologia
A face ruralista do Governo Dilma e os movimentos sociais
Dois artigos jornalísticos publicados recentemente revelam de forma clara a vinculação do Governo Dilma com a "classe ruralista".
No primeiro deles, "Agenda de Dilma revela opção do governo", publicado no jornal "Brasil de Fato" (30/05), Cleber Buzatto descreve em detalhes a agenda de reuniões da presidenta, que em pouco menos de uma semana, recebeu diversas lideranças diretamente associadas aos interesses dos latifundiários, como é o caso, por exemplo, da audiência particular com a maior representante do agronegócio brasileiro, a senadora Kátia Abreu (PSD/TO). Além de homenagens recebidas recentemente, Dilma mantem um canal aberto com os latifundiários brasileiros por intermédio da sua ministra da casa civil, Gleise Hoffmann, que tem atuado como "porta-voz" dos ruralistas no planalto. Da mesma forma, por diversas vezes Dilma compareceu em eventos patrocinados pelo agronegócio, que tem um lugar de destaque na agenda política do seu governo. Essa aliança conservadora tem reflexos no plano econômico, como podemos notar pela recente concessão de R$ 112 bilhões para o "Plano Agrícola e Pecuário", voltado para financiar a produção do agronegócio. Da mesma forma, os "aliados" da base governamental de Dilma, como diversos deputados e senadores do PMDB, têm fortes vínculos com os ruralistas, barganhando apoio político em troca de um favorecimento presidencial à sua causa.
Por outro lado, Dilma tem se negado a conceder audiência para os índios e seus representantes. Apesar dos diversos conflitos envolvendo povos indígenas brasileiros, as portas do planalto estão fechadas para os habitantes originais do Brasil. Conforme aponta o artigo de Cleber, Dilma é a única presidente brasileira - desde a ditadura militar - que ainda não se reuniu com os índios.
Em outro artigo, "Os movimentos sociais e a queda da popularidade de Dilma", publicado no site "Luis Nassif online", Emanuel Cancella chama atenção para a recente queda da popularidade do governo Dilma e associa esse fenômeno à crescente insatisfação dos movimentos sociais e ambientais com os fortes vínculos existentes entre o Governo Dilma e o que há de mais conservador na política brasileira. Soma-se a essa insatisfação a total ausência de uma política de reforma agrária no Brasil, os constantes desrespeitos aos direitos humanos, o apoio fornecido ao cartel hidroelétrico formado em torno da figura do senador José Sarney e seus aliados e fenômenos criados pela "política da aliança", como é o caso "Feliciano". Segundo Emanuel, a recente queda da popularidade de Dilma não está unicamente associada ao aumento da inflação, mas também à insatisfação dos movimentos sociais organizados, sindicatos e outros setores da sociedade com o rumo que o governo Dilma tem tomado nos últimos dois anos.
Diante da aproximação das próximas eleições presidenciais, Dilma se vê em uma encruzilhada: ou busca retomar o vínculo com os movimentos sociais, sindicais, ambientais e indígenas que ajudaram a elegê-la (principalmente, no segundo turno), ou solidifica ainda mais o estreito vinculo que tem mantido com o agronegócio e a elite ruralista, descendentes da antiga UDR e do que há de mais conservador no cenário político brasileiro. O acirramento dos conflitos políticos, indígenas e fundiários expressa claramente a divergência entre essas duas agendas políticas e seus interesses, além de demonstrar a existência de visões diferenciadas sobre o "desenvolvimento" que se quer para o Brasil: de um lado o "neodesenvolvimenstismo conservador" das elites rurais; do outro, o "desenvolvimento sustentável" proposto pelos índios, camponeses, ambientalistas e demais setores populares.
Infelizmente, a descrição da agenda política de Dilma revela que, até o presente o momento, a sua opção tem sido em favor das forças ruralistas e sua visão conservadora de desenvolvimento.
Link para os artigos de Buzatto e Cancella:
Agenda de Dilma revela opção do governo
Os movimentos sociais e a queda da popularidade de Dilma
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