Antropologia
Polícia Federal se prepara para retirar arrozeiros
No maior silêncio, que até o Jornal do Brasil escutou, governo prepara ação para retirar os arrozeiros que teimam em ficar na Terra Indígena Raposa Serra do Sol.
A matéria vem, naturalmente, distorcida, como é de se esperar do Jornal do Brasil. Não são milhares de pessoas. Nem chegam a uma centena. São arrozeiros e seus investimentos e lucros monumentais.
A questão está pegando fogo e esta semana será determinante. Vamos aguardar os movimentos e torcer para que tudo dê certo em favor dos índios.
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PF monta ação em área indígena
Vasconcelo Quadros
Brasília. A Polícia Federal prepara uma das mais delicadas operações do governo Lula: a retirada de milhares de brancos que ocupam há décadas as áreas indígenas da Raposa/Serra do Sol, na região Norte de Roraima, num vale de 1,720 milhão de hectares de terras férteis na fronteiras entre Brasil, Venezuela e Guiana Inglesa, cujo subsolo guarda também um valor ainda incalculável em jazidas de minérios preciosos. A operação, que ainda não recebeu nome de batismo, envolverá o maior aparato federal já deslocado para uma ação de retirada e será executada pelo grupo de Controle de Distúrbio Civil (CDC), que integra o Comando de Operações Táticas (COT), a tropa de choque da PF. Nos 45 dias previstos para durar a operação, a Polícia Federal deverá mobilizar cerca de 500 homens, e contará com o apoio da Polícia Rodoviária Federal, Exército, Aeronáutica, Fundação Nacional do Índio (Funai) e Ibama. Serão usadas armas e munição não letais para evitar um confronto com mortos.
Os dois grandes obstáculos são um grupo de dez rizicultores, conhecidos em Roraima como arrozeiros - que responde por 11% do PIB do Estado ou um movimento de R$ 200 milhões/ano na produção de arroz e soja - e os índios macuxi reunidos em torno da Sociedade de Defesa dos Índios do Estado de Roraima (SODIUR), que não querem a consolidação da reserva em área contínua por achar que ela representa um retrocesso econômico e cultural. Mas a decisão, delineada num decreto do presidente Lula e do ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos já foi convalidada pelo Supremo Tribunal Federal.
- Vamos resistir com o que nós temos de recursos. Vão ter de passar por cima - reage o líder dos arrozeiros, o ex-prefeito de Pacaraima Paulo Cesar Quartiero, o mais radical deles.
Dentro da área que o governo quer como território indígena livre, estão quatro vilas (Mutum, Água Fria, Socó e Surumú), que fazem parte dos municípios de Uiramutã e Pacaraima, onde vivem cerca de 15 mil brancos, parte deles em franco processo de miscigenação. As aldeias da região abrigam 12 mil índios, distribuídos em cinco etnias (macuxi, wapixana, ingaricó, taurepang e patamona). Os macuxi se dividem entre a SODIUR e a Sociedade Indígena de Roraima (SIR), que luta pela retirada dos arrozeiros, apoiada pela igreja católica e Organizações Não Governamentais (ONGs) nacionais e estrangeiras.
- A operação da Polícia Federal já está montada. Mas quem está na área não vai sair. Só se for na marra - diz o senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), que alerta o governo para a probabilidade de um confronto sangrento. Oficialmente a Polícia Federal não confirma nem desmente a operação. Mesmo assim, abriu um inquérito para investigar como vazaram as informações sobre um plano que vinha sendo discutido sigilosamente. Por ele, estão previstos o deslocamento de duas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) de campanha, uma sediada na capital de Roraima, Boa Vista, e a outra móvel, que fará parte do aparato que se deslocará às fazendas que serão desocupadas. Um posto de atendimento médico de emergência ficaria sob a responsabilidade do Exército e Polícia Rodoviária Federal. O planejamento inicial prevê 25 pontos como alvos a serem evacuados e, imediatamente, ocupado pelas tropas federais, que serão deslocadas simultaneamente por terra e ar. A operação já deveria ter sido deflagrada, mas acabou adiada por conta dos jogos do Pan, cuja segurança exigiu o deslocamento de quase todo o efetivo da Polícia Federal.
Helicópteros, caminhões, caminhonetes cabine dupla farão parte do comboio que se deslocará de diferentes pontos no mesmo dia em que os federais chegarem na capital do Estado, Boa Vista, para iniciar a retirada. A tropa de choque vai entrar na área munida de escudos, capacetes especiais, cassetetes, granadas de gás lacrimogênio, balas de borracha para espingarda calibre 12.
Um grupo de retaguarda terá armas letais para casos de emergência. Só em equipamentos e combustíveis, os gastos devem girar em torno de R$ 1,8 milhão.
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