Antropologia
Na Bolivia, Guarani são contra autonomia de Tarija
É preciso estarmos atentos com o quê está acontecendo na Bolívia. A notícia abaixo mostra que a grande comunidade do povo Guarani, que vive majoritariamente no departamento (estado) de Tarija, está contra os movimentos políticos dos departamentos rebeldes ao presidente Evo Morales. Esses departamentos querem um nível de autonomia que não têm, pois a Bolívia é uma república centralista, com pouco nível de federalismo.
Lembremos que alguns meses atrás os Guarani de Tarija fecharam um trecho do gasoduto da Petrobrás e precisou uma forte negociação para eles abrirem. Parece que estão bem organizados, aos moldes dos indígenas do Altiplano, e querem a autonomia dos seus territórios.
A luta dos povos indígenas da Bolívia recebeu uma ímpeto muito grande com a eleição de Evo. Porém os desafios são imensos e as elites de cinco dos sete departamentos conseguiram arregimentar forças contra a Constituição recém-aprovada. Nela constava que os territórios a serem demarcados teriam uma certa autonomia ou estariam no nível dos departamentos.
Muita coisa ainda vai rolar na Bolívia. Esperemos que não chegue ao nível de guerra civil. Mas certamente não há clima para mudanças tão radicais como estão propostas na Constituição.
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Bolívia: Guaranis de Tarija discordam de 'autonomia'
No momento em que alguns departamentos do país realizam greves de fome, escrevem estatutos autonômicos e estimulam a população a incorporar assuntos autônomos de fato; o povo indígena Guarani do departamento de Tarija manifesta o desacordo com a ação dos cidados e a prefeitura e faz um chamado a primeira autoridade política do departamento e ao presidente do comitê do cidadão, exigindo que as solicitações de Autonomia Departamental sejam encaminhadas dentro da lei.
O povo guarani, que vive no departamento de Tarija, está reunido em torno do Conselho de Capitanias de Tarija, este conselho representa aos guaranis da província O?Connor e a Província Gran Chaco, o representante Justino Zambrana, manifestou que "o Comitê Civil, ao negar a exigência de autonomia indígenas, e só reconhecer e promover as autonomias departamentais, prejudica e fere uma demanda de ancestrais do povo guarani, que é a autodeterminação"; assim, expressa o desacordo com o chamado feito tanto pelo prefeito como pelo presidente do comitê civil que se instaure no departamento uma Autonomia Departamental de fato.
O presidente da Assembléia do Povo Guarani de Itika Guasa, Never Barrientos, disse que a intenção dos cidadãos e a Prefeitura do departamento de Tarija de declararem autonomia no departamento esta fora da legalidade, que rege atualmente a Bolívia. "Recebemos uma solicitação para integrar essa ilegalidade, em suposta defesa do interesses dos povos indígenas, no entanto é só para defender seus interesses", disse Barrientos em resposta à solicitação, deixando de forma clara sua posição. "Não renunciaremos nossos direitos que estão reconhecidos internacionalmente e que também são leis em nosso país, como a Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas, que confirma os direitos a autonomia indígena".
Para Justino Zambrana, "a autonomia indígena é legal e legítima", recordando que em 13 de setembro a Organização das Nações Unidas aprovou a Declaração dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas. Tal declaração foi elevada ao nível de Lei da República da Bolívia, em 7 de novembro, com o que a Autonomia Indígena tem o reconhecimento legal legitimado a nível internacional.
O presidente do Conselho de Capitanias de Tarija lembrou à prefeitura e ao comitê civil que: "As riquezas naturais de gás se encontram no território guarani, por tanto pertence ao povo guarani em legítimo direito, aspirar o beneficio dessas riquezas e usá-las soberanamente", com esta afirmação o povo guarani, através de Mburuvicha (autoridade) departamental, deixa claramente estabelecido que não concorda com as aspirações do prefeito e do comitê civil.
Never Barrientos, Mbhuruvicha (autoridade) de Itika Guasu, denunciou que as autoridades da prefeitura pretendem surpreender em sua boa fé às comunidades e usem artifícios na cidade de Tarija para fazê-los participar de atos ilegais. Assim, chamam as comunidades guaranis, homens e mulheres, para que não sejam surpreendidos, e possam avaliar a ilegalidade dos cidadãos e prefeitura, "queremos que as comunidades guaranis e o bem-estar de nossos filhos e das futuras gerações e cremos que vamos conseguir, defendendo nossos direitos e sendo respeitados pela legalidade que rege a Bolívia".
Fonte: Agência Intercultural de Notícias Indígenas (AINI)
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