Antropologia
Machu Picchu, Cusco - Peru
Estive recentemente em Cusco, no Peru, conhecendo de perto os vestígios arqueológicos do Império Inca e outras sociedades pré-incas. O lugar é especial, único, belo em todos os sentidos. Apesar da altitude - que produz efeitos como o 'soroche', também conhecido como 'mal estar das alturas' - o ambiente local ainda respira a história andina pré-colonização espanhola, presente nos centros arqueológicos e nas manifestações culturais dos campesinos e povos indígenas da região. Além dos passeios realizados no entorno da cidade, existem dezenas de sítios arqueológicos localizados em pequenos povoados e vilas dos arredores, que podem ser acessados com apenas algumas horas de viagem. O povo é hospitaleiro e simpático e a infra-estrutura local oferece inúmeras opções de lazer, incluindo trilhas ecológicas, festas populares, restaurantes, museus, cafés e feiras de artesanato.
Cusco é conhecida como a capital do antigo Império Inca, que, entre os séculos XV e XVI, chegou a dominar uma extensão territorial que ia do Equador até Santiago, atual capital do Chile. Essa sociedade andina ficou conhecida no mundo inteiro pela complexidade da sua cultura material e imaterial, incluindo o seu sistema filosófico e religioso, os seus conhecimentos agrícolas, cosmológicos, medicinais e técnicos, além de construções gigantescas cujos vestígios ainda são encontrados praticamente intactos e estradas que interligam cidades fortificadas onde viviam milhares de habitantes. Essa civilização andina viveu seu apogeu entre os anos 1430-1530, período em que foi governada por Pachacuteq, imperador Inca responsável pela ampliação do domínio político através da conquista ou integração de outras sociedades andinas regionais, seja através da guerra ou do comércio.Infelizmente, quando os espanhóis chegaram na América do Sul, no início do século XVI, já encontraram o império Inca fragilizado por uma guerra civil ocasionada pela sucessão política, que levou a uma disputa acirrada pelo poder entre os dois filhos do imperador. Essa cisão interna do império Inca explica como - através de uma série de injustiças, alianças e traições - um exército formado por pouco mais de uma centena de espanhóis foi capaz de conquistar uma legião composta por cerca de 20 mil soldados Incas. O fato é que em algumas centenas de anos as antigas cidades Incas foram praticamente destruídas e reconstruídas pelos 'conquistadores', os últimos membros da linhagem de imperadores foram assassinados e, por muito tempo, qualquer identificação com a cultura Inca - como o uso da língua do antigo império, o quechua, ou o culto aos antigos deuses Incas - foi expressamente proibido. Por muito tempo, as 'ruínas' do antigo império foram mantidas em estado de total abandono, praticamente desaparecendo em meio às matas e montanhas locais. Deviso a esse (des) encontro de civilizações, jamais poderemos saber como teria sido o desenvolvimento desta sociedade andina.
No entanto, a cultura, a língua e a cosmologia dos Incas permanece 'viva' nos campesinos indígenas que habitam regiões como o Vale Sagrado, onde continuam praticando e desenvolvendo técnicas agrícolas herdadas de seus antepassados; nas manifestações folclóricas e culturais do povo cusquenho, cuja boa parte ainda fala a língua quechua; na agrobiodiversidade local, rica em variedades de milho, batata e outros tubérculos e frutas locais; nas danças e músicas típicas; nas histórias e lendas relatadas pelos moradores mais antigos; nos movimentos indígenas, campesinos e populares que predominam na região; além, é claro, de uma culinária local repleta de pratos típicos como o "Cuy ao forno" e o "Ceviche".
Em meados do século XIX, a província de Cusco recebeu a visita de exploradores e comerciantes europeus, que percorreram a região em busca de tesouros minerais e arqueológicos. Assim, os vestígios de ouro e argila ainda existentes nos antigos sítios Incas foram contrabandeados para museus europeus e norte-americanos, finalizando uma história de roubo e violência colonial. Durante muito tempo a região de Cusco foi praticamente abandonada pelo Estado do Peru e, em meados dos anos 1990, estava ocupada por grupos terroristas e movimentos revolucionários.
Ao final da década de 1990, com as reformas políticas e econômicas, o governo do Peru voltou sua atenção à região de Cusco, fazendo uso político de inúmeros estudos históricos e arqueológicos realizados autonomamente por pesquisadores peruanos e estrangeiros, dando início a um processo histórico de luta pelo reconhecimento da cidade e seus arredores como um sítio arqueológico de valor humanitário.
Após o reconhecimento oficial de Machu Picchu como um patrimônio da humanidade pela Unesco, Cusco passou a receber uma legião de turistas provenientes de países do mundo inteiro. Com isso, boa parte da população local está envolvida direta ou indiretamente com atividades de turismo, retirando daí parte de sua renda. Ao mesmo tempo, teve início um movimento amplo de reconhecimento de identidades e culturas andinas locais, com o incentivo a projetos de 'revitalização cultural' promovidos por agências locais de desenvolvimento, levando à multiplicação, em poucos anos, das iniciativas folclóricas e culturais promovidas pela população local.
Nesta postagem, pretendo mostrar algumas fotos retratando vestígios arqueológicos localizados na cidade de Cusco, em vilas e povoados dos arredores e na antiga cidade Inca de Machu Picchu, reservando para outras postagens um relato fotográfico sobre outros trechos da viagem, como uma festa popular camponesa que tive a oportunidade de acompanhar e as visitas ao Mercado Público local e ao Museu de Plantas Medicinais Andinas.
Chinchero, Cusco - Peru
Salineras de Maras, Cusco - Peru Sítio Arqueológico de Moray, Cusco - Peru
Sítio Arqueológico de Pisac, Cusco - Peru
Sítio Arqueológico de Saqsayhuamán, Cusco - Peru
Sítio Arqueológico de Tipon, Cusco - Peru
Templo del Sol, Cusco - Peru
Machu Picchu & Huayna Picchu, Cusco - Peru
Sítio Arqueológico Pikillacta Wari, Cusco - Peru
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