Lançamento do Livro "Redes Sociotécnicas na Amazônia" - 28ª RBA
Antropologia

Lançamento do Livro "Redes Sociotécnicas na Amazônia" - 28ª RBA


Gostaria de convidar a todos para o lançamento do livro "Redes Sociotécnicas na Amazônia: tradução de saberes no campo da biodiversidade" (RJ: Edit. Multifoco, 2012), no âmbito da sessão de lançamento da 28ª Reunião Brasileira de Antropologia, a ser realizada na PUC, em São Paulo, entre os dias 02 e 05 de julho. Trata-se de uma versão reduzida e revisada da minha tese de doutorado em antropologia, defendida na Universidade de Brasília, em agosto de 2011. Segue abaixo uma breve apresentação do livro, que pode ser adquirido na:

Editora Multifoco: http://www.editoramultifoco.com.br/literatura-loja-detalhe.php?idLivro=903&idProduto=931

Editora Cultura: http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=30182015&sid=1061682361499503092058911

 "Este livro resulta do projeto de colocar em relação duas áreas do conhecimento antropológico: os estudos da ciência e a etnologia de povos amazônicos. Trata-se de um estudo de antropologia simétrica voltado para a descrição etnográfica de redes sociotécnicas formadas em torno de iniciativas de 'desenvolvimento sustentável' envolvendo, de um lado, comunidades indígenas e tradicionais e, do outro, pesquisadores das áreas de ecologia, agronomia e farmacologia. ¨Tendo como referência a Teoria Ator-Rede, busca-se analisar a relação entre saberes no campo da biodiversidade a partir de uma abordagem ontológica das práticas de conhecimento agenciadas por cientistas, índios e ribeirinhos na concepção dos 'objetos' que circulam nas redes. Esse tema é analisado dentro do contexto histórico marcado pela regulamentação do acesso ao "patrimônio genético" e ao "conhecimentos tradicionais associados". Durante esse percurso, vamos refletir sobre uma série de temas correlatos, como os direitos intelectuais, as formas de repartição de benefícios, os processos de anuência prévia, os encontros e desencontros entre o naturalismo ocidental e o perspectivismo ameríndio, a emergência da categoria de pesquisadores indígenas, a tentativa de formação de uma farmacopeia ribeirinha e o estabelecimento de uma feira e de uma associação de agricultores indígenas" (Texto Contra-Capa).

"A relação de saberes no campo da biodiversidade faz parte da história de contato entre ocidentais, índios e ribeirinhos na Amazônia. Essa relação foi marcada pela violência e a desapropriação de conhecimentos, mas também deu origem a uma série de iniciativas de colaboração 'intercientífica'. Ao final do século XX, o acesso ao 'patrimônio genético' e aos 'conhecimentos tradicionais associados' passou a ser problematizado do ponto de vista ético e político, resultando em iniciativas de regulamentação jurídica, como é o caso da "Convenção sobre a Diversidade Biológica". Este livro busca analisar pesquisas pautadas pela proposta do 'diálogo' entre a ciência ocidental e outras formas de conhecimento não ocidentais sob o efeito da nova legislação, experiência que nos conduz a uma transposição do Grande Divisor 'Tradição/Modernidade' a partir de uma abordagem ontológica das práticas de conhecimento e tradução agenciadas por pesquisadores e comunidades em iniciativas de desenvolvimento sustentável em andamento na Amazônia" (texto orelha).

"Se existem múltiplas ontologias (mundos), o conflito ou acordo entre elas não depende do estabelecimento de um consenso sobre o que existe 'realmente'. O fundamental é indagar se os efeitos pragmáticos das ontologias de nossos 'parceiros' são bons ou ruins para as nossas atividades de habitação. O fato é que algumas ontologias produzem efeitos que não prejudicam a nossa existência e outras geram fenômenos nefastos em nossas vidas. O fundamental, do ponto de vista metodológico, é que não existe uma essência ou princípio universal que possa servir como base para pensarmos essas disputas. Não existe sujeito neutro, assim como não existe ontologia que não seja contingência histórica. O que resta, portanto, é tentarmos entender os efeitos de nossas ideias em nossas vidas e na vida das pessoas com quem nos relacionamos" (Trecho da Introdução).

"Este livro também pode ser entendido como um conjunto de instrumentos e ferramentas conceituais que podem ser agenciadas novamente a partir da tradução realizada pelo leitor, que vem salvar esses escritos da morte e do esquecimento, para colocá-los novamente em movimento, seja através da reformulação crítica ou da simples reprodução. Isso só é possível quando o livro é pensado enquanto uma caixa de armar, múltiplo, fragmentado, como um mosaico de linhas que apontam caminhos divergentes ou convergentes, mas que precisam ser percorridos pessoalmente pelo leitor, para que possam 'viver' novamente em outros contextos discursivos. Uma multiplicidade que não resulta em pluralidade, permitindo - através dos usos e abusos da leitura - a projeção de uma abertura na ordem do pensamento e da linguagem. Com isso, torna-se inútil qualquer tipo de 'mapa para a leitura', já que o mais importante reside na descoberta que se desdobra no percurso do que propriamente na projeção de um ponto final de chegada" (Trecho da Introdução).

"De um lado, nos vemos diante de questões propriamente analíticas. Como conciliar narrativamente na etnografia, com equilíbrio de proporções, pressupostos ontológicos de/e sistemas de conhecimento que, no mundo da vida, se encontram em relação de dominação / subordinação como soem serem os de pesquisadores em farmacognosia e de especialistas em plantas medicinais de comunidades ribeirinhas? Como seguir as operações de mediação, tradução, transformação e domesticação entre ontologias Baniwa e a ecologia das paisagens, por meio de um conjunto de dispositivos de sistematização e formas de agenciamento, nos marcos de uma pesquisa intercultural colaborativa, sem romantizar os conhecimentos nativos nem sobrevalorizar a capacidade de escuta e tradução dos parceiros não índios?

De outro, Diego se põe também o desafio de fazer o seu trabalho incidir em processos políticos contemporâneos. Como tornar o seu argumento e a sua etnografia de algum modo útil para a revisão do marco regulatório e institucional da proteção aos chamados "conhecimentos tradicionais associados" ao patrimônio genético? Que contribuição o trabalho pode oferecer para potencializar os esforços de pesquisas colaborativas interculturais com orientação simétrica?

Foi nesse duplo registro que li o trabalho de Diego: como, simultaneamente, uma projeção epistemológica ousada e inovadora, e como uma tentativa de intervir em temas quentes e atuais. No primeiro registro, testemunhamos Diego navegar numa malha de fluxos e dispositivos (bioprospecção, farmacognosia, etnofarmacologia, laboratórios, protocolos de pesquisa, circuitos de troca, trilhas, transectos, exsicatas, coleções, fotografias, diários de campo, desenhos, mapas...) e num enxame de atividades e materiais (comunidades ribeirinhas e indígenas, fitoterápicos, plantas medicinais, sementes, manivas, biodiversidade, recursos genéticos, curandeiros, pesquisadores indígenas, roças, paisagens...) guiado por um mapa de conceitos (redes sociotécnicas, ontologias, rizomas) que não necessariamente leva aos mesmos lugares. No segundo registro, percebemos um Diego preocupado em intervir nos debates atuais sobre: propriedade intelectual; consentimento livre e informado; repartição de benefícios do acesso à biodiversidade e aos conhecimentos tradicionais associados; e com a formulação de acordos pragmáticos que enfrentem os dilemas do diálogo intercientífico, criando condições de convivência entre distintas ontologias. É nesse emaranhado de linhas (argumentativas, etnográficas e morais) que Diego e o seu trabalho se interconstituem." (Trecho do Prefácio - Henyio Trindade Barreto Filho).    



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