O sexto encontro do ciclo de conferências e debates Humanos e Animais: Os Limites da Humanidade terá como tema a subjetividade animal. Organizado peloGrupo de Pesquisa Filosofia, História e Sociologia da Ciência e da Tecnologia, o evento englobará duas mesas-redondas, que acontecem nos dias 29 e 30 de setembro, às 9h30, no Auditório do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP.
A temática será abordada a partir de uma perspectiva interdisciplinar, tendo como eixo a filosofia, mas passando também pela antropologia, biologia, linguística, psicologia e direito. Segundo o coordenador do encontro, Lorenzo Baravalle, pós-doutorando em Filosofia na USP e integrante do grupo, "o objetivo principal é definir perguntas e esboçar linhas de resposta, mais do que chegar a conclusões definitivas".
Entre as questões a serem discutidas, estão: Quais são as manifestações da subjetividade animal? O tempo possui, em alguns animais, a mesma função unificadora do ?eu? que certos autores consideram central para a individualidade e a subjetividade humana? É possível falar de uma consciência da morte nos animais? O conceito de ?autonomia?, tomado da filosofia política e do direito, pode ser utilizado para caracterizar a subjetividade animal?
O debate reunirá alguns dos pesquisadores que participaram dos eventos anteriores do ciclo. A mesa-redonda do dia 29 será moderada por Baravalle e contará com três debatedores. Hernán Neira, professor de filosofia política da Universidad de Santiago de Chile (USC), falará sobre a consciência do tempo por parte dos animais. Sua exposição se concentrará na crítica ao pensamento filosófico-biológico de Jakob von Uexküll, particularmente no que diz respeito à distinção entre a temporalidade humana, tida como objetiva, e a animal, tida como subjetiva.
O professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Gustavo Andrés Caponi, vai analisar a heterogeneidade das faculdades cognitivas dos seres humanos e dos outros animais à luz das ideias do naturalista francês Georger-Lous Leclerc, conde de Buffon.
A antropóloga Eliane Sebeika Rapchan, professora da Universidade Estadual de Maringá (UEM), discutirá a existência de uma "subjetividade animal" a partir de resultados de pesquisas que exploraram aspectos ligados a emoções e sentimentos, à consciência, à capacidade simbólica, entre outros, em chimpanzés selvagens e de laboratório.
Com moderação de Caponi, a mesa-redonda do dia 30 também terá participação de três debatedores. Stelio Marras, professor do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, abordará o tema da correspondência animal-humano. Para isso, recorrerá à questão clássica da antropologia "os Bororos são araras" - uma referência ao pensamento simbólico de indígenas brasileiros, os Bororos, que têm a arara como totem e não fazem uma distinção ontológica entre si mesmos e essas aves.
Baravalle, agora como expositor, fará uma reflexão sobre a capacidade dos animais de perceberem a unicidade da experiência - isto é, a existência um "self", com identidade própria - e, a partir disso, vai explorar as potencialidades de um modelo teórico que possibilite uma melhor compreensão da fenomenologia da vida animal.
O professor do Instituto de Filosofía y Ciencias de la Complejidad (Ificc), no Chile, Davide Vecchi, discutirá se a subjetividade é uma propriedade primitiva de todos os seres vivos ou uma faculdade condicionada a certas capacidades biológicas, como a cognição, por exemplo. Na exposição, tratará de dois casos concretos: o sistema imunológico e uma colônia de bactérias.
CICLO
Inaugurado em 2013, o ciclo Humanos e Animais: Os Limites da Humanidade trata das origens, legitimidade e consequências ético-políticas da diferenciação dos seres vivos em humanos, animais e sub-humanos (neste caso, definidos por uma visão preconceituosa, segundo a qual indivíduos de certas etnias, tipos físicos ou gênero sexual são inferiores aos humanos).
O objetivo é discutir os fundamentos filosóficos e epistemológicos mais relevantes do que se entende por humano a partir de uma abordagem interdisciplinar, englobando perspectivas variadas, entre elas as da antropologia, da biologia e da ética.
A organização é do Grupo de Pesquisa Filosofia, História e Sociologia da Ciência e da Tecnologia do IEA, da Associação Filosófica Scientiae Studia e do Projeto Temático Fapesp Gênese e Significado da Tecnociência: Das Relações entre Ciência, Tecnologia e Sociedade.
O evento é gratuito e aberto ao público mediante inscrição prévia. Haverá transmissão ao vivo pela web. Para mais informações e inscrições, enviar mensagem para [email protected]. O Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP fica na rua Praça do Relógio, 160, Cidade Universitária, São Paulo, SP.