Drops Indigenistas -- 12
Antropologia

Drops Indigenistas -- 12


1. Em Serra Talhada, PE, terra de Lampião, um juiz federal condenou os irmãos Pankararu Jurandi e Manuel Freire por falsidade ideológica. Os dois foram flagrados vendendo carteiras de identidade indígena falsas a pessoas não indígenas da região do município de Jatobá, onde está situada a Terra Indígena Pankararu. Paga-se bem por tais carteiras na região porque elas abrem facilidades nos serviços de saúde regionais.

Para aqueles funcionários da Funai que trabalharam no órgão em 2003, Jurandi Freire é o próprio e famoso "Zé Índio", que, paramentado com um grande cocar de penas de gavião carcará, arrasava a Funai liderando um grupo de uns 15 índios que viviam pressionando a Funai por mais recursos.

Zé Índio cometou o grave erro de achar que poderia fazer as coisas só, sem o auxílio e o apoio de organizações indígenas. Nem se incomodou em ter o apoio dos Pankararu e foi até contra a ampliação da terra indígena, através da demarcação da terra indígena Sete Serras. Seu isolamento numa invasão do prédio da AER da Funai, em Recife, em janeiro de 2004, ficou evidente. O drama meio trágico de Zé Índio é de que ele, que, por méritos próprios, se educou, trabalhou e virou bancário, aí voltou-se a fundo para assumir sua identidade indígena achando que iria não somente liderar seu povo como alcançar glórias políticas maiores. Só e por si mesmo.

Manuel Freire, seu irmão, foi chefe de vários postos indígenas em Pernambuco, mas não se contentou com o árduo trabalho de funcionário público. Foi condenado a prestrar serviços por dois anos. Porém, Zé Índio foi condenado a dois anos de cadeia, por ser reincidente. Lamento muito.


2. Os índios Enawene-Nawe, que vivem no vale do rio Juruena e que eram contrários à construção de hidrelétricas em seus rios, e por isso tinham invadido um canteiro de obras que fazia uma Pequena Central Hidrelétrica no seu rio e destruído 11 caminhões-caçamba e todo o acampamento, acabaram sucumbindo. Nesta sexta-feira passada, entraram em acordo com a empresa construtora. Juntos com eles assinaram os índios Rikbatsa, Nambiquara, Mynky e Pareci, que já tinham acertado sua participação.

No todo esses cinco povos indígenas vão receber 6 milhões de reais para que oito PCHs sejam feitas em seus rios, porém não dentro de seus territórios. Acho que se convenceram de que nada de ruim vai afetar seus rios. Os peixes vão continuar a subir os rios para desovar e eles continuarão pescando à vontade.

Difícil é dizer como eles fizeram esse acordo e com que intermediação. Difícil é pensar que o Ministério Público estava contra e tinha bons argumentos para ajudar os Enawene-Nawe a protestar contra essas construções.

Será que é a vitória da cooptação ou a vitória da racionalidade capitalista?


3. Na reunião chamada KATOOMBA 2009, realizada em Cuiabá, com a presença dos governadores da Amazônia e do ministro Carlos Minc, algumas lideranças indígenas também estiveram presentes. Inclusive Almir Suruí, do povo Suruí, de Rondônia.

Almir, que está com um pé atrás a respeito da intermediação de Ongs ambientalistas que estão buscando as empresas poluidores para entrar nos programas de Prestação de Serviços Ambientais, exigiu participação direta dos índios.

Almir Suruí, assim como as demais Ongs ambientalistas, se intitulam "guardiões da floresta" e querem compensação por isso.

A questão de compensação por serviços ambientais está na ordem do dia. Estão todos alvoroçados em conseguir que os índios assinem papeis favoráveis a negociações. O MMA e a Funai se comprometeram por acordo a entrar nesse negócio.


4. Em São Gabriel da Cachoeira, o ISA promoveu uma reunião com a participação de diversos representantes indígenas e alguns antropólogos para tratar do uso que os índios podem fazer das novas tecnologias, especialmente da internet.

Segundo a matéria publicada, índios Juruna, do rio Xingu, estiveram presentes junto com Yanomami, de Roraima, e muitas das etnias do Alto Rio Negro. Para as Ongs indigenistas, a participação efetiva dos índios no mundo moderno se dará inclusive pelo uso de novas tecnologias. Eles acham que o uso que os índios delas fizerem não deverá afetar negativamente suas culturas, pois eles serão capazes de distinguir o joio do trigo, o "veneno da mandioca brava", que é retirado, do valor nutritivo da massa da mandioca, conforme a metáfora apresentada por um antropólogo participante.

De fato, os povos indígenas estão no mundo. Não há como não os fazer conhecer essas tecnologias e os envolver no conhecimento do mundo. Melhor para eles se souberem da tecnologia e da ciência do homem branco através do conhecimento científico. Assim, saberão mais de si mesmos e poderão transitar entre os dois mundos, mantendo sua autonomia cultural.


5. O Projeto Genográfico, que trata de traçar, através de amostras genéticas de quase todos os povos autóctones do mundo, a ancestralidade do Homem e suas conexões genéticas, desde o surgimento do Homo sapiens, foi apresentado à Comissão Nacional de Ética na Pesquisa (CONEP), do Ministério da Saúde, esta semana que se passou.

No mundo inteiro, cerca de 100.000 indivíduos autóctones da África, Europa, Oriente Médio, Índia, Indonésia, Austrália, Sibéria, Ásia em geral e das Américas participarão do Projeto Genográfico. Na Europa serão portugueses, espanhois, ingleses, sérvios, russos, finlandeses, suecos, enfim, todos que são nativos da Europa há muitos milhares de anos. No Brasil contar-se-á com a participação de cerca de 80 a 100 povos indígenas, de acordo com a aceitação de cada um. A participação é absolutamente voluntária. É possível que alguns povos indígenas não queiram participar do projeto e a eles não interesse saber de suas ancestralidades. Mas muitos certamente quererão saber.

O ideal do Projeto Genográfico-Brasil é traçar as rotas e os momentos em que as populações indígenas se instalaram nos diversos meios-ambientes do Brasil e das Américas; será importante também formular hipóteses sobre como essas populações, enquanto grupos genéticos, se comunicaram entre si, e com que proximidade temporal eles estão relacionados entre si.

O Projeto Genográfico não diz respeito às culturas e sociedades atuais. Não fala de nações ou etnias, e sim de grupos geneticamente próximos ou longínquos.

O Projeto Genográfico trará uma grande contribuição para a história do povoamento do Brasil, para o conhecimento das migrações dos povos indígenas em eras passadas e para ajudar no conhecimento das relações linguisticas, especialmente aquelas que não são bem conhecidas.

Para os índios, o Projeto Genográfico será mais uma ferramenta da ciência e da tecnologia para eles se apropriarem e conhecerem, do ponto de vista da ciência genética, parte de sua história que remota a milhares de anos atrás.

Alguns membros da CONEP e o representante indígena fizeram algumas objeções ao Projeto Genográfico e exigiram mudanças em alguns pontos para que pudesse vir a ser discutido em mais detalhes em nova reunião.



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