Antropologia
ALTAMIRA 2 em ação
Como estava mais do que previsto, a reunião promovida pelas Ongs e pela Igreja Católica para discutir e protestar contra a proposta do governo de fazer a Usina Hidrelétrica de Belo Monte, deu em grande confusão.
O evento começou segunda-feira à tardinha, com a abertura feita por Dom Erwin Krautler, bispo de Altamira, grande figura da Igreja Católica, que, inclusive, por sua defesa do meio ambiente e dos pequenos lavradores da região, está jurado de morte e vive sob a proteção da Polícia Federal.
Dom Erwin fez um lindo discurso em que disse que o rio é uma dádiva de Deus e não pode ser modificado ao bel prazer dos homens.
Ontem falaram diversos especialistas na matéria. Um deles é um professor de engenharia de meio ambiente da Unicamp, Oswaldo Sevá, que escreveu um livro demonstrando que a Usina Belo Monte é inviável pelo projeto atual, que é uma farsa em si mesma, pois precisará de uma barragem de contenção a montante para abastecê-la de água nos meses de estio.
Em seguida, falou o engenheiro João Fernando Rezende, o principal articulador do novo projeto da usina. Defendeu o projeto e atacou os argumentos do ambientalista da Unicamp. Rezende foi vaiado seguidamente, enquanto falava, mas os índios não se manifestaram. Em seguida falou um representante local do movimento contra a Usina Belo Monte. Ao término de sua fala, uma índia Kayapó chegou até o engenheiro Rezende e ameaçou-o com o facão. Logo os homens Kayapó se levantaram, começaram a cantar e dançar e partiram em direção a Rezende, com bordunas e facões em riste. Os demais membros da mesa olhavam meio admirados e estarrecidos, um deles, de cabelos brancos, parecia até estar achando graça, até que os índios se aproximaram mais, agarraram Rezende pelos braços, rasgaram sua camisa, derrubaram-no e, ao final, talvez mesmo sem querer, deram-lhe um corte no braço com um facão. Aí viu-se que não era só um ritual de dança de guerra e podia descambar para algo pior. Felizmente, o bom senso prevaleceu, o grupo indígena se afastou e o engenheiro foi retirado da confusão e escoltado para um hospital da cidade de Altamira.
Os jornais
Folha de São Paulo, o E
stado de São Paulo e
O Globo trazem esse incidente em detalhe. Veja em especial o vídeo desse incidente transmitido pelo Jornal da Globo, ontem à noite. O vídeo relembra um incidente parecido em que o atual presidente da Eletrobrás, José Antonio Muniz Lopes, foi ritualmente atacado pela índia Tuíra, do povo Kayapó-Gorotire, e teve o rosto esfregado por um facão.
O evento em Altamira, segundo a
Folha de São Paulo, foi promovido pela Arquidiocese de Altamira, pelo Instituto Socioambiental e por outras Ongs estrangeiras não mencionadas. Vem sendo programado há uns três anos e, finalmente, aconteceu. Segundo os organizadores, duas mil pessoas têm comparecido ao evento, cerca de 600 índios entre não índios, moradores da região contrários à Usina Belo Monte.
A Eletrobrás emitiu nota dizendo que vai denunciar os responsáveis pelo sucedido. Não sei se os índios ou os organizadores do evento.
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Contra usina, índios ferem engenheiro
Agressão a funcionário da Eletrobrás ocorreu em encontro no Pará no qual povos do Xingu debatem hidrelétrica de Belo Monte
Paulo Fernando Rezende recebeu um golpe de facão e sofreu um corte profundo no braço, mas passa bem; ninguém foi preso pelo ato
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
Um engenheiro da Eletrobrás que participava ontem, em Altamira (777 km de Belém), de um encontro para discutir a construção de barragens na bacia do rio Xingu foi ferido por um grupo de índios após sua fala em um debate. Paulo Fernando Rezende, coordenador do estudo de inventário da bacia do Xingu, sofreu um corte profundo no braço direito, mas passa bem. Ninguém foi preso.
Rezende viajou a convite da organização ao evento, para apresentar estudos de aproveitamento hidrelétrico da usina de Belo Monte, no rio Xingu. O encontro foi organizado pela Arquidiocese de Altamira, pelo ISA (Instituto Socioambiental) e outras organizações.
Rezende falava a uma platéia de aproximadamente mil pessoas, no ginásio poliesportivo da cidade. Desde o início da sua fala, com argumentos favoráveis à construção da usina, foi muito vaiado pela platéia. Os índios permaneciam calados. Não se sabe quantos estavam no local, mas há aproximadamente 600 em Altamira acompanhando o encontro.
Rezende afirmou que o impacto ambiental da usina seria menor do que os ambientalistas davam a entender. Depois que ele terminou de falar, Roquivam Alves da Silva, do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), disse à platéia: "Nós iremos à guerra para defender o Xingu se for preciso".
Então, índios de diversas etnias, sobretudo caiapós, levantaram-se e começaram a gritar, cantar, dançar em círculos e se aproximar lentamente de onde estavam os palestrantes. Armados de facões e bordunas, eles cercaram o grupo e não deixaram ninguém sair. A confusão era acompanhada por policiais militares, que não intervieram.
Após cerca de dez minutos, organizadores do evento conseguiram tirar o engenheiro do cerco, mas ele já estava ferido. Silva negou incitação ao ataque. "É verdade que aconteceu logo depois de eu falar, mas não acho que eu o tenha causado. O clima já estava muito tenso", afirmou Silva à agência de notícias Associated Press.
Parte da tensão se devia ao fato de a Justiça Federal ter derrubado a liminar que impedia o início dos estudos de viabilidade de Belo Monte. Os caiapós, designação que abrange várias tribos aparentadas de língua jê da bacia do Xingu, são contrários à hidrelétrica.
Em 1989, num encontro semelhante em Altamira para debater a mesma usina (então chamada de Cararaô), uma índia caiapó mostrou sua indignação com a obra ao encostar o facão no rosto do presidente da Eletronorte, José Antônio Muniz Lopes. Depois do episódio, o Banco Mundial suspendeu o financiamento para a usina.
Ontem à noite, o agressor não havia sido identificado. O engenheiro registrou boletim de ocorrência na delegacia. Em nota, a diretoria-executiva da Eletrobrás manifestou "indignação" diante do fato e afirmou que "tomará todas as providências necessárias para que os responsáveis pela agressão sejam punidos".
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